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20 abr 2024

A oratória de Roberto Jefferson

As pessoas estão fascinadas com a oratória de Roberto Jefferson. João Mellão Neto, extraordinário colunista do Estadão, diz em um de seus textos: “Assisti, por mais de três horas, ao depoimento do deputado Roberto Jefferson no Conselho de Ética da Câmara. Impecável. Nota 10 em postura, retórica, clareza de raciocínio, domínio da platéia. O professor Reinaldo Polito, grande mestre da oratória, haverá de me dar razão”.

A audiência do programa Roda Viva da TV Cultura foi uma das mais elevadas da sua história por causa da presença de Roberto Jefferson. A certeza de que todos se interessariam pela sua forma de se comunicar foi tão grande que a Rede Saraiva, uma das maiores e mais tradicionais livrarias do Brasil, no dia seguinte à entrevista do deputado no Roda Viva, já estava com o conteúdo do programa em DVD à venda. Muitos até pediram que eu analisasse a comunicação do parlamentar carioca. Se me perguntarem o que mais sei fazer na vida, respondo sem medo de errar – analisar a capacidade oratória das pessoas. Realizo esse trabalho há 30 anos e faço em média 40 avaliações por dia. É só multiplicar para ver o número de oradores que já analisei. Mas, por que esse fascínio todo pela comunicação do deputado petebista?

Vamos começar pela voz de Roberto Jefferson. A voz tem ótimo timbre, é sonora, forte e muito bem articulada. A dicção é perfeita. Alterna a velocidade da fala e o volume da voz com naturalidade, produzindo um ritmo melodioso e agradável. Sempre que encerra um pensamento faz pausas apropriadas, conseguindo assim valorizar as informações que transmitiu e permitir que os ouvintes tenham condições de refletir sobre a mensagem que acabou de comunicar. Sabe ser agressivo quando enfrenta um adversário e mostra-se indignado ou usa ironia para se defender dos ataques que recebe. Usa ainda a voz para evitar os apartes quando julga que são inconvenientes, ou para interromper a lógica de um raciocínio que lhe pareça prejudicial à causa que defende. Como pratica o canto, aprendeu a usar muito bem o aparelho fonador, especialmente para respirar no momento certo e da forma apropriada.

As palavras

Outro aspecto que chama a atenção pela qualidade na comunicação do orador é o seu vocabulário. Roberto Jefferson jamais hesita quando precisa encontrar a palavra adequada para corporificar seu raciocínio. A construção das frases é perfeita, sempre com começo, meio e fim. Não comete erros gramaticais grosseiros. Conjuga os verbos de forma correta e se preocupa em fazer com acerto as concordâncias. Possui o automatismo da fala. Isto é, por causa das diversas atividades que exerceu ou ainda exerce como apresentador de televisão, advogado, político, está tão acostumado a falar em público que ao pronunciar a primeira palavra de uma frase, todas as outras aparecem automaticamente para concluir o pensamento. Basta observar as diversas entrevistas que dá sobre o mesmo tema – algumas frases são exatamente as mesmas. Essa qualidade dá a ele fluência e muito desembaraço. E talvez esteja na expressão corporal um dos pontos mais fortes da sua comunicação. Os gestos, o jogo fisionômico, especialmente o olhar, a forma como inclina o corpo para a frente durante o ataque, e recua para se defender ou refletir, são detalhes que trabalham em perfeita harmonia com a inflexão da voz e a mensagem. O conjunto é harmonioso e coerente.

Nenhum orador pode pretender sucesso se não tiver conteúdo. Roberto Jefferson navega com tranqüilidade sobre qualquer tema, seja assunto relacionado ou não à política. Sabe organizar os argumentos em uma ordenação lógica que desnorteia seus adversários. Refuta as objeções contrárias como se soubesse com bastante antecedência o que as pessoas iriam dizer. Não deixa apartes ou ataques sem resposta. Tem consciência que do choque entre a tese e antítese o que irá prevalecer é o que não for destruído, e que servirá como síntese, ou seja, sobrará para o julgamento.

Além de todas essas qualidades, fala com paixão, com envolvimento, com entusiasmo, com emoção. Em nenhum momento se expressa só por se expressar – demonstra de maneira evidente e bastante clara que a mensagem que está comunicando é relevante, e se é importante para ele, deve ser também para os ouvintes. Mostra-se destemido e muito corajoso. Entretanto, embora possua todas essas qualidades, que constituem a aplicação prática dos conceitos teóricos da boa comunicação, hoje não é possível dizer se ele é realmente um bom orador.

Na verdade, as únicas pessoas que podem dar essa resposta são ele próprio e aqueles a quem está acusando. Por enquanto vamos nos ater apenas aos aspectos estéticos da comunicação, sabendo que alguém só poderá ser considerado um bom orador se o que diz estiver respaldado na ética e na verdade. Faço a ressalva porque seus oponentes dizem que suas acusações são infundadas. Por isso, se ele estiver sendo verdadeiro, se as suas acusações encontrarem amparo na sinceridade, pode ser considerado um melhores oradores que o Brasil já conheceu. Se, por outro lado, alguma informação não tiver apoio na realidade dos fatos, poderá ser considerado apenas um bom ator. Tenho a impressão de que o futuro poderá nos dar a resposta.

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