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04 mar 2018

Como conquistar as pessoas

Se você deseja se aproximar das pessoas e conquistá-las, não embarque nessa história de que esse objetivo pode ser alcançado com elogios falsos, vazios e demagógicos.

O caminho é outro. Faça elogios sinceros, verdadeiros, bem sustentados para  conquistar a simpatia das pessoas. Assim construirá relacionamentos honestos, duradouros e não se sentirá violentado como se fosse um mercador barato de sentimentos.

A competência para conquistar pessoas deve estar no próprio comportamento, especialmente na simpatia cativante, envolvente e verdadeira.

Aprendi muito cedo o real significado de conquistar pessoas. Embora o fato tenha ocorrido há muitos anos, nunca mais escapou à minha lembrança. Até hoje agradeço por ter vivenciado uma experiência que me serviu de lição para a vida toda.

Eu não poderia ter tido infância melhor. Fui criado na Rua Carajás, no Jardim Primavera, em Araraquara, no Estado de São Paulo. Era um bairro habitado por pessoas simples, pobres, íntegras e que se davam muito bem.

Era tudo muito precário. Ruas sem asfalto, sem iluminação. Casas sem forro, sem esgoto e protegidas por cerca de bambu. Não havia sequer vestígios de televisão.

Aquele bairro, com toda a aparente pobreza, era um paraíso para a garotada. Vivíamos o tempo todo num verdadeiro parque de diversões – livres, leves e totalmente soltos.

Cedinho, antes das oito, os meninos e as meninas que estudavam à tarde já estavam prontos para brincar. As meninas se divertiam brincando de casinha, pulando amarelinha ou trocando roupas das bonecas de pano.

Para os meninos havia duas atividades preferidas: caçar passarinho  e, o que mais gostávamos, jogar futebol.

Precisávamos apenas vestir um calção. Andávamos sem camisa e com os pés descalços. A sola do pé era tão grossa que, se pisássemos num caco de vidro, cortava, mas não saia sangue.

Por volta de onze e meia, as mães iam para o portão da casa, sempre com o inseparável lenço na cabeça, pano de prato na mão e gritando o nome do filho para avisar que o almoço estava quase pronto, que era hora de tomar banho e que não poderia chegar atrasado na escola.

Não havia exceção. Em todas as famílias o único que trabalhava para garantir o sustento da tropa era o pai. A turma fazia milagre. Ganhavam apenas para comer, pois a roupa e sapatos não eram descartáveis como hoje. Duravam anos, até não servirem mais e serem passados para o irmão mais novo.

O lazer ficava por conta do footing na praça, ouvir o programa de calouros pela Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, tomar quentão quando havia quermesse, pôr uma cadeira na calçada para conversar e trocar doces caseiros e licores com os vizinhos.

Cinema era passeio só para ocasiões especiais, quando, por exemplo, havia lançamento dos filmes do Mazaroppi, que formavam filas até dobrar o quarteirão. Afora esses momentos, as crianças e adolescentes do nosso bairro usavam a porta do cinema apenas como ponto de encontro para trocar gibis.

Todo mundo se virava como podia. As famílias tinham uma pequena horta no fundo do quintal, ao lado de um galinheiro e de um chiqueiro. Para comer só precisavam comprar arroz, feijão e batatas.

Como ninguém ganhava, ninguém gastava e a vida transcorria tranqüila, como diziam meus conterrâneos, do jeito que Deus queria.

De repente, uma novidade. Eu estava jogando pelada com os amiguinhos, como fazia todos os dias, quando a rotina foi quebrada por um carrão que chegou devagarzinho, sem fazer barulho e parou no meio da Rua Carajás, que se transformava no nosso campo de futebol.

Paramos o jogo para ver quem estava chegando. Um senhor sorridente abriu a porta do carro e foi cumprimentando a garotada como se todos fossem velhos conhecidos. Veio na minha direção, perguntou meu nome e se podia conversar um pouco com minha mãe.

Ele entrou em casa com o mesmo sorriso com que havia cumprimentado os meninos. Como não era comum a visita de estranhos, minha mãe o atendeu meio sem jeito, enxugando as mãos no avental.

Seu nome era Antonino. Não demorou nada para que conquistasse toda a família com suas histórias da Itália. Até eu, menino novinho, fiquei tão fascinado e magnetizado com a conversa simpática e agradável do visitante que nem me lembrei mais dos coleguinhas que continuavam animados com o jogo.

Ao sair de casa havia conseguido algo impensável – vendeu uma coleção de seis dicionários enciclopédicos da Editora Formar. Como imaginar alguém vendendo um produto, que não era assim de primeiríssima necessidade, para pessoas que tinham dinheiro apenas para comprar alimentos?

A capacidade de persuasão do Antonino estava na sua simpatia, na forma cativante como envolvia as pessoas, no seu jeito simples e na maneira animada como contava histórias.

Ao retornar ao carro, Antonino me perguntou se poderia lhe apresentar alguns amiguinhos. Eu disse que sim sem hesitar. Não deixaria de ouvir suas histórias por nada. Foram dois dias inesquecíveis e que marcariam minha vida para sempre.

Antonino era um homem de sete instrumentos – literalmente. Se na casa que visitávamos tinha acordeão, ele se transformava em sanfoneiro, tocava e cantava as músicas que a família mais gostava.

Se na outra casa o instrumento era o violão, lá estava ele dedilhando e entoando canções. Se não havia instrumentos, ele ia para a cozinha ensinar receitas que davam água na boca.

Ele era tão sedutor que foram poucas as casas de onde saiu sem vender ao menos um pequeno livro. Em nenhum momento demonstrou contrariedade ou deixou de sorrir se as pessoas não podiam comprar.

No final dos dois dias, ao me deixar em casa, depois de visitarmos o meu último amiguinho, com jeito paternal pôs a mão no meu ombro e disse:

Você é um bom menino e tem jeito para o comércio, Reinaldo. Não importa o que você faça na vida, lembre-se sempre de que o comércio pode ser o meio de conseguir o que deseja.

Nunca mais vi o Antonino, mas jamais me esqueci do seu nome, das suas palavras e do seu jeito de ser. Embora eu não tenha abraçado o comércio, usei seus ensinamentos em todas as atividades que exerci.

Os livros que vendeu à minha mãe foram tão úteis para os meus estudos que, mesmo desatualizados, até hoje os conservo em minha biblioteca.

Aprendi com aquele vendedor de livros que para conquistar as pessoas é preciso saber interagir com elas e desenvolver a capacidade de envolvê-las de maneira honesta e aberta.

Compreendi que se conseguirmos abrir o coração das pessoas, sua mente se desarmará de resistências e avaliará com benevolência nossa mensagem.

Superdicas da semana:

– Elogie as pessoas sempre com sinceridade.

– Faça o que souber fazer com intuito verdadeiro de ajudar as pessoas.

– Seja simpático, gentil e atencioso.

– Mostre sua simpatia mesmo quando não conquistar seus objetivos.

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