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19 abr 2024

Continue na sua

Por Reinaldo Polito

Que chato! É só pensar em progredir um pouquinho que lá vem a receitinha: você precisa mudar, ser diferente, seguir outros rumos. Aí você pensa – está certo, parto para o sacrifício porque quero continuar crescendo, mas se pudesse chegar lá do jeito que eu sou, sem grandes mudanças, acho que seria um cara mais realizado. Pois fique sabendo que para melhorar nem sempre há necessidade de mudanças indesejáveis. Por isso, prepare-se que lá vai uma proposta irrecusável – aumentar as chances de sucesso na comunicação sem mudanças de comportamento, apenas explorando o que você já tem de melhor. Em comunicação, se alguém tiver dificuldade, ou precisar fazer muito sacrifício para usar uma técnica, das duas uma, ou ela não é boa, ou não é apropriada para ele. Vou me ater a apenas um aspecto da comunicação, a maneira de falar, e a partir dele você poderá refletir sobre muitos outros, próprios para a sua característica.

Você fala muito rápido?
Sim? Então já deve ter ouvido muita gente aconselhando – hei, fale mais devagar, para que tanta pressa? Parece que vai tirar o pai da forca! E quem disse que a solução para o seu caso é essa, falar mais devagar? Verifique se você irá se sentir confortável falando mais devagar. Pode ser que falar depressa o ajude a dar fluência ao pensamento e a se expressar de forma mais envolvente, demonstrando interesse pelo que está dizendo.
Se concluir que obtém essas vantagens falando mais depressa, nada de começar a pisar no freio de maneira precipitada, só porque disseram que deveria agir assim. Você precisará apenas se empenhar para tornar essa característica um estilo positivo de comunicação. Veja o que pode ser feito para melhorar e continuar na sua:
Melhore a dicção – A primeira regrinha para quem fala rápido é aprimorar cada vez mais a dicção. Pronunciando bem as palavras, mesmo falando mais rápido, as pessoas compreenderão sua mensagem. Para pronunciar melhor as palavras faça leitura de textos de jornais e revistas em voz alta, com algum obstáculo na boca, como o dedo indicador (a mesma atitude de alguém que morde o dedo quando está com raiva, só que sem a mesma força, de leve), ou um pedaço de rolha. Cinco minutinhos por dia serão suficientes. Você exercitará os músculos labiais, aprenderá a ouvir o som da própria voz e desenvolverá o reflexo condicionado para pronunciar bem as palavras naturalmente, sem precisar prestar atenção em como está produzindo o som. Se julgar que seu problema de dicção é mais grave, procure um fonoaudiólogo para que ele faça uma avaliação e o oriente sobre o procedimento mais adequado.

Faça pausas – Outro cuidado que alguém que fala rápido precisa ter é o de fazer pausa ao concluir uma frase, ou informação importante. Embora o recurso da pausa deva ser usado por todas as pessoas, independentemente da sua característica, no caso de quem fala rápido o cuidado precisa ser redobrado, pois além de valorizar a mensagem que acabou de transmitir, estará dando oportunidade para que os ouvintes reflitam sobre ela. E mais, a pausa usada de maneira apropriada ajuda a criar maior expectativa sobre as informações que virão a seguir.

Repita as informações importantes – Quem fala depressa corre o risco de jogar tudo dentro do mesmo saco, impedindo que os ouvintes, em meio àquele turbilhão, percebam quais as informações importantes. Desenvolva o hábito de repetir as informações importantes para dar mais uma chance de as pessoas entenderem o que foi transmitido. Procure fazer a repetição com palavras diferentes para que a exposição não se torne desinteressante.

Você já percebeu que não precisará mudar. Poderá continuar falando rápido e com esses recursos estará transformando sua característica em um estilo agradável e eficiente.

Você fala muito devagar? Sim? Então também não foi poupado pelas críticas – e aí vagareza, vai continuar nessa marcha lenta? Fale mais depressa.E quem foi o gênio que afirmou que essa mudança o beneficiaria? Se falar devagar o ajuda a esquematizar melhor o pensamento, a planejar de forma mais apropriada a seqüência da fala e a considerar com mais precisão a maneira de refutar as possíveis objeções que encontrará pela frente, fique na sua, não mude. Apenas aprenda a usar os recursos mais eficientes para tornar a fala mais lenta em um estilo positivo e passar a explorá-lo a seu favor. Aqui vão algumas dicas para atingir esse objetivo:

Continue olhando para os ouvintes – Durante as pausas procure continuar olhando para os ouvintes, para não deixar que se rompa aquele fio invisível que prende você a eles. Mantenha o contato visual com todas as pessoas para que possa analisar a reação que estão tendo diante das suas mensagens e se sintam prestigiadas e interessadas em seguir seu raciocínio.

Volte a falar com ênfase – Após os momentos de pausas mais prolongadas inicie a frase seguinte falando com mais ênfase, energia e disposição, demonstrando por esse comportamento que nos instantes de silêncio estava fazendo opção pelas melhores idéias, e que não deixou de usar palavras porque tivessem desaparecido da mente.

Fique em silêncio, mesmo – Quem fala mais devagar acaba desenvolvendo o hábito de preencher as pausas com os irritantes hããã, ééé, iii. O problema surge porque mesmo falando mais devagar não significa que o pensamento seja lento também, ao contrário, em pessoas com essa característica o raciocínio está sempre muito à frente na exposição, planejando o que dizer na seqüência. Por ser o pensamento rápido e as palavras não aparecerem com a mesma velocidade os ruídos funcionam como espécie de aviso aos ouvintes de que já sabe o que vai dizer, mas que as palavras ainda não surgiram. Tenha paciência, aguarde a palavra com calma e fique em silêncio absoluto nas pausas – o resultado será muito mais positivo.

Alterne o volume da voz e, se for possível, de vez em quando a velocidade – A tendência de quem fala mais devagar é tornar a exposição monótona. E é por esse motivo que geralmente a maneira lenta de falar é criticada. Por isso, procure alternar o volume da voz, falando às vezes mais alto e em outros momentos mais baixo. Se for possível, sem que esse esforço o pressione de alguma maneira, alterne de vez em quando também a velocidade, isto é, você continua falando devagar, mas em determinados momentos dá uma aceleradinha, para produzir assim um ritmo mais agradável à exposição.

Esse é o caminho – crescer e progredir fazendo o possível para continuar na sua, sem mudanças que provoquem desconfortos. É lógico que essa atitude não pressupõe o comodismo, ao contrário, talvez exija até mais dedicação e empenho para que você possa melhorar. Mas não é uma delícia, saber que poderá chegar lá sendo você mesmo?

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