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28 mar 2024

É duro falar quando os argumentos
são frágeis

Se falar diante de um grupo, com argumentos fortes e poderosos, defendendo uma causa praticamente ganha, às vezes, é uma tarefa difícil de ser cumprida, imagine, então, quando você conta apenas com argumentação frágil e inconsistente. Você olha para as pessoas passivas sentadas a sua frente, que aguardam a mensagem quase sempre sem desconfiar da revoada de borboletas em seu estômago. Com a adrenalina fervendo no sangue, o máximo que você consegue pensar é – o que será que fiz na vida para merecer esse castigo?
O pior é que nem você acredita no que vai falar. E, talvez, fosse o primeiro a criticar o orador que ousasse se apresentar com aqueles argumentos.

Pois é, há momentos na vida que para atingirmos um objetivo maior somos obrigados a passar por etapas penosas, que servirão como trampolim para outros estágios dos nossos projetos. Se essas fases não forem cumpridas, não teremos condições de aspirar a outros patamares. Para a causa que abraçamos é questão de vida ou morte.
Nessas circunstâncias só temos uma saída. Embora façamos uso dos argumentos, sabemos que não vamos contar com eles para conquistarmos a vitória. Assim, a função desses soldados esfarrapados, que mais se assemelham à guarda de elite de Sadam Hussein, no dia seguinte à invasão Americana ao Iraque, é a de servir de meio para que uma estratégia arrojada seja tentada. E falo tentada porque as chances de sucesso são tão remotas que, se obtivermos êxito, teremos motivos de sobra para comemorações. Tudo dependerá única e exclusivamente da sua atitude. Diante da platéia você deverá se comportar como um bravo, corajoso, audaz, destemido. Pelo volume da voz, pela expressão corporal, pelo vocabulário contundente e até agressivo, você mostrará aos ouvintes como está indignado com a injustiça que estão prestes a cometer, como estão enganados ao observar apenas os fatos superficiais, chegando a conclusões, ou tomando decisões sem analisar com profundidade as causas mais distantes e profundas que ensejaram os fatos atuais. Com toda veemência que puder utilizar, mostrará como nem sempre a maioria decidiu com a razão. Citará como exemplo o julgamento e a crucificação de Cristo, que foram precedidos da pressão e dos gritos ensandecidos da multidão, que, cega, pensava estar agindo com razão e com consciência. Reviverá os erros cometidos pré e pós-revolução francesa, em que a justiça feita de interesses e suposições não comprovadas acionavam, não raro, a guilhotina sobre pessoas inocentes. Pedirá maior reflexão, tempo de ponderação, trégua em benéfico de uma justiça que não pode ser precipitada, com o custo de estabelecer em cada um o remorso, que será carregado como um fardo sem chances de revisão, de reparos ou arrependimentos. Encerrará não com argumentos, mas sim com lágrimas, com voz embargada suplicando a generosidade, a compreensão, o coração aberto para que as idéias boas e verdadeiras tenham chances de prevalecer. Os argumentos, quando utilizados, deverão ser apresentados sempre em grupo, em conjunto, para que a quantidade possa, quem sabe, compensar a evidente fragilidade.

Sei que você deve estar pensando – mas, isso é muito difícil. Vai exigir uma capacidade de interpretação de um verdadeiro e competente artista. Talvez. É bem provável que sim. Mas, se a sua causa maior for honesta, íntegra e necessária para que pessoas, entidades ou propostas sejam beneficiadas. E se você estiver mesmo decidido a lutar com todos os meios para ver concretizado um sonho tão importante, prepare-se para derramar lágrimas e implorar. Afinal, ou você tenta esse último e derradeiro recurso ou joga antecipadamente a toalha e começa a aplaudir os adversários. Eu disse que essa não é uma tarefa fácil. Mas, saiba também que não é uma empreitada impossível. Muitas causas, aparentemente fracassadas, se transformaram em vencedoras apenas pela atitude corajosa e obstinada dos seus defensores. Caberá sempre a você decidir até que ponto valerá a pena lutar por aquilo que acredita.

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