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04 mar 2018

Enfrente as agressões verbais camufladas

Se ao conversar você sentir no ar uma agressão velada, avalie bem a circunstância antes de reagir. Tome cuidado porque as agressões verbais camufladas podem ou ser ou não intencionais, e se você interpretar mal, além de vítima talvez se transforme também no bandido da história.

 

Com algumas variações a história tem um roteiro mais ou menos semelhante. A pessoa o trata bem, com gentileza, de maneira muito simpática, mas  algum detalhe na conversa do interlocutor o deixa desconfortável. Pode ser o tom de voz, algumas expressões usadas nas entrelinhas, o olhar, ou outro indicador que você capta até de forma inconsciente.

 

Freud disse que o nosso inconsciente pode receber a mensagem transmitida pelo inconsciente da outra pessoa, sem que a informação passe necessariamente pelo nosso consciente. Ou seja, nem quem transmitiu a mensagem, nem quem a recebeu estão sempre conscientes desse processo da comunicação.

 

Há situações, entretanto, em que a pessoa passa a informação agressiva de forma consciente, mas teatraliza, interpreta um comportamento, como se quisesse transmitir uma mensagem diferente.

 

De qualquer maneira, a pessoa tendo ou não consciência de que a comunicação dela é agressiva, você não se sente bem, e, quase sempre, tem dúvidas de como deveria agir.

A agressão verbal camuflada pode ocorrer quando menos se espera e todos estamos sujeitos a ela nas situações mais imprevisíveis: em nossa casa, no relacionamento com amigos ou no ambiente de trabalho.

Embora a agressão explícita seja indesejável em qualquer circunstância, como nós a identificamos com facilidade, podemos decidir sobre a conveniência de nos defendermos ou não.

Por outro lado, a agressão velada não nos permite a mesma atitude, pois  apenas nos sentimos ofendidos e ficamos impotentes, ou por não percebermos o fato de maneira consciente, ou por notarmos a intenção da outra pessoa, mas devido à sutileza da sua atitude ficamos sem reação.

Nesta semana vou discutir as características da agressão verbal camuflada não intencional e mostrar algumas atitudes para combatê-la. Na próxima semana vou tratar da agressão camuflada intencional.

A agressão verbal camuflada não intencional talvez seja a mais complexa e delicada de todas as situações, porque não há intenção de a pessoa agredir. Na verdade, até quisesse mesmo elogiar, mas suas palavras, se não nos ofendem, nos deixam o sentimento de que fomos desconsiderados.

Veja o exemplo maravilhoso deixado pelo meu querido e saudoso amigo Blota Júnior, o melhor orador e dos mais competentes apresentadores de televisão que conheci. Devo muito do sucesso do meu livro “Como falar corretamente e sem inibições” ao prefácio que ele fez à obra.

Quando já estava fora da telinha, ao participar como convidado de um programa de televisão a apresentadora o elogiou  muito. Entretanto, ao lhe entregar de presente uma caneta disse gentilmente esperar que ele a usasse para assinar um contrato que o colocasse novamente na televisão, qualquer que fosse a emissora.

A saia justa de Blota estava costurada. A apresentadora o elogiava de forma sincera, amável e verdadeira, mas, nas entrelinhas, sem perceber, dava a entender, na verdade, que ele estava desempregado e que a televisão não tinha interesse em seu trabalho.

Se, por um lado, ele não tinha como recusar elogios tão simpáticos e amigos, por outro, não se sentia considerado com as palavras que acabara de ouvir. Sem magoar a apresentadora que havia sido tão amável, precisaria dar uma resposta mostrando que aquela informação não correspondia à realidade.

Veja com que habilidade o grande orador usou a comunicação para contornar de maneira eficiente a posição difícil em que se encontrava:

‘Se eu tivesse a capacidade de resistir à emoção, mas acho que já não a tenho, poderia dizer que você, com esse coração tão grande, tão alto, tão generoso, está sempre procurando ajudar os seus semelhantes. Eu a conheço há muitos anos, desde que começou a trabalhar na televisão e nos tornamos grandes amigos.’

Depois desses elogios iniciais, em que demonstrou a amizade e a admiração pela apresentadora, deu a resposta genial:

‘Eu diria um pouco poeticamente que, no momento em que estou, a televisão brasileira já não tem tanto interesse na minha participação. O fato é que, com a minha idade, já penetrei no que chamo as doces penumbras de outono.

Estou naquele momento em que, no outono, no crepúsculo, as árvores vão perdendo um pouco das suas flores, das suas folhas, mas adormecem muito tranqüilamente, certas de que já cumpriram toda a sua finalidade.

Já hospedaram pássaros que nelas fizeram seus ninhos, já floriram e já enfeitaram as paisagens, já deram frutos e, portanto, alimentaram apetites. Enfim, cumpriram dignamente essa missão.

As suas raízes estão fundadas. Elas pertencem a essa paisagem e não precisam necessariamente retornar à atividade do passado para se sentirem certas de que um dia na vida puderam e souberam cumprir a sua missão.’

Assim, sutil, com inteligência e diplomacia, Blota Júnior conseguiu discordar, sem demonstrar nenhuma contrariedade.

Em circunstâncias semelhantes essa é a melhor atitude: retribuir o elogio e, com simpatia, sem demonstrar que se sentiu agredido, dar a versão do fato para poder preservar e elevar sua imagem.

Agora uma sugestão especial a quem vai fazer uma defesa oral, seja de um TCC, seja de uma dissertação de mestrado ou de uma tese de doutorado. Cuidado com suas reações diante da banca examinadora.

Lembre-se de que o componente da banca não está ali para prejudicá-lo. Portanto, não responda às indagações dele de maneira agressiva, como se estivesse se defendendo. Por mais inadequada que seja a observação, responda com respeito e consideração.

Ao invés de dizer: o senhor não entendeu direito o que eu quis dizer.

Prefira utilizar essas ou outras palavras semelhantes: muito obrigado pela sugestão. Vou procurar considerar esse ponto em um próximo trabalho. Com relação a esse aspecto procurei analisar o…

Essa forma mais “diplomática” de discordar evitará que o avaliador tenha um comportamento hostil com relação a você ou ao seu trabalho, sem necessidade.
Superdicas da semana:

– Analise se em suas conversas não está sendo agressivo sem intenção.

– Antes de reagir, observe se a pessoa teve mesmo intenção de ofendê-lo

– Verifique se não ficou ofendido por se lembrar de outro assunto alheio à conversa.

– Responda à agressão não intencional apenas para esclarecer os fatos.

 

Livro de minha autoria que trata desse tema: “Como falar corretamente e sem inibições”, “Superdicas para falar bem” e “Assim é que se fala”, publicados pela Editora Saraiva.

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