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25 abr 2024

Faça de sua voz uma aliada poderosa

por Reinaldo Polito

Você ficará impressionado ao constatar como é simples melhorar a qualidade da voz e transformá-la numa poderosa aliada da sua comunicação

As coincidências entre os presidentes da República não se limitam às decisões econômicas, como as que estamos assistindo no momento quando comparamos Lula com FHC. Há outras que são devastadoras, ligadas à comunicação, pois quem fala em público sempre corre o risco vez ou outra de dar uma pisadela na bola. E depois que a palavra saiu não adianta tentar correr atrás para consertar. Você dá uma entortada aqui, uma desconversada ali, mas não tem jeito, a desgraça já está feita e só resta rezar para que as conseqüências não sejam tão graves. Dois exemplos de escorregadelas que devem ter provocado enxaqueca crônica nos mandatários da nação, uma de Figueiredo e outra de Collor.
Figueiredo com a resposta que deu a um menino quando este lhe perguntou o que faria se seu pai ganhasse um salário mínimo, “Daria um tiro na nuca”. Imagino que assim que puxou o gatilho já estava arrancando os poucos fios de cabelo que restavam. Fernando Collor, que, provavelmente, sem ter consciência do descontentamento da população quanto ao seu governo, instigou o povo a vestir-se de verde-amarelo como demonstração de apoio, e acendeu o estopim da sua renúncia com a resposta dos brasileiros indo às ruas vestidos de preto. Acho que quando viu aqueles desfiles intermináveis, todos pretinhos, deve ter batido a cabeça na parede se lamentando – “Como pude dizer uma besteira dessa?”.

Entretanto, outras coincidências entre presidentes do Brasil, além de serem curiosas, nos ajudam muito a entender melhor as sutilezas da comunicação. Você já parou para pensar o que Lula e Jânio Quadros têm em comum? Os dois não possuem voz bonita. Lula, com sua voz gutural, arrastada, sem brilho. Jânio, como definiu um jornalista ao analisar um trecho de seu discurso que está no CD que acompanha meu livro Como falar corretamente e sem inibições, com sua voz roufenha, às vezes excessivamente aguda. Entretanto, os dois foram campeões de votos em eleições que disputaram. Opa, significa que para ganhar eleições um candidato não pode ter voz bonita? Cuidado, não tire conclusões precipitadas. Juscelino tinha uma voz clara, limpa, muito bem colocada. Fernando Henrique, embora com leve problema de dicção, também tem uma boa voz. E todos saíram vencedores das urnas. Tanto na política, quanto na vida corporativa, ou em qualquer outra atividade, para ter sucesso o que importa mesmo é que a voz tenha personalidade. Portanto, se você tiver uma voz de taquara rachada não se desespere, ainda há esperança, desde que consiga falar com personalidade bem projetada. Ao contrário, se você tiver uma voz bem postada, sonora, com timbre melodioso, não vai adiantar nada se sua imagem não puder ser valorizada pela forma como fala.
Antes de analisarmos como você poderá melhorar a voz e transformá-la numa poderosa aliada para ajudá-lo a vencer com sua comunicação, deixe-me alertá-lo para um aspecto extremamente importante: se a sua voz apresentar algum problema sério, procure um fonoaudiólogo para um exame adequado. Em nosso curso de expressão verbal, por exemplo, mantemos um centro de fonoaudiologia dirigido pela fonoaudióloga Sonia Corazza, que inicia todas as aulas com exercícios para o aprimoramento da voz.

Desconhecemos nossa voz

Provavelmente, você deve estranhar muito quando ouve sua voz gravada. Algumas pessoas até afirmam que não são elas que estão falando e, em certos casos, duvidam da qualidade do gravador. Ouço com freqüência pessoas reclamando que detestam sua voz.
Esse é um fenômeno bastante comum. De maneira geral não gostamos de nossa voz quando a ouvimos reproduzida numa gravação, porque, quase sempre, julgamos que ela possui melhor qualidade.
Temos essa opinião porque, quando falamos, ouvimos o som de nossa voz dentro de nossa cabeça com toda a ressonância produzida pelos ossos. Entretanto, as outras pessoas e, obviamente, nós, quando ouvimos a voz gravada, captamos a vibração de uma onda de ar, isto é, um som diferente daquele que estamos acostumados a ouvir. Portanto, se você não gostar de sua voz porque ficou mal impressionado ao ouvi-la numa gravação, saiba que essa é uma reação normal, que ocorre com a maioria das pessoas.

Assim que você chegar ao local onde será sua apresentação, faça uma avaliação do O melhor volume ambiente. Primeiro verifique a acústica da sala. Salas com muitas janelas e vidros, carpetes forrando as paredes, de maneira geral têm péssima acústica. Portas abertas no fundo ou nas laterais, especialmente com pessoas conversando nos corredores, também atrapalham bastante. Aparelhos de ar-condicionado barulhentos se transformam em poderosos adversários da voz, pois irão obrigá-lo a falar bem mais alto.
Observe também a que distância estará dos últimos ouvintes e se vai poder contar ou não com ajuda de um microfone. Lembre-se de que pessoas idosas normalmente apresentam problemas de audição e, por isso, têm mais dificuldade para ouvir. Após essa avaliação você poderá determinar o volume de voz mais apropriado para o ambiente.
Procure sempre usar o volume da voz um pouco mais alto do que seria suficiente para que as pessoas ouvissem, desde que não se sintam agredidas, evidentemente. Assim, se tiver de falar para um grupo de 20 pessoas, fale como se a platéia fosse de 50 ouvintes. Se o auditório for de 50, fale como se estivesse diante de 100. Esse volume adicional fará com que você demonstre mais envolvimento e interesse pela mensagem que transmite.
Se contar com auxílio de um microfone, procure posicioná-lo um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do queixo. Cada microfone tem uma sensibilidade própria, mas, de maneira geral, irá captar bem o som se estiver afastado uns 10 centímetros da boca.

A velocidade ideal

Para começo de conversa, não existe uma velocidade-padrão para falar. Você irá falar mais rápido ou devagar dependendo da sua capacidade de respiração, da sua emoção, da maneira como pronuncia as palavras, do tipo de sentimento que pretende transmitir com a mensagem.
Se você tem o hábito de falar depressa e se sente desconfortável quando tenta falar mais devagar, porque o pensamento não flui com a mesma facilidade, continue com sua velocidade, mas aprimore e desenvolva alguns recursos que serão importantes para melhorar a qualidade da sua comunicação:

  Pronuncie melhor as palavras. Melhorando a dicção, mesmo que você continue falando rápido, as pessoas entenderão com mais facilidade suas palavras.
Um bom exercício para melhorar a dicção é pôr um obstáculo na boca (pode ser o dedo indicador dobrado, voltado com as costas para a boca e preso entre os dentes) e ler um texto, procurando articular as palavras da maneira mais compreensível que puder. Cuidado – prenda o obstáculo com os dentes, sem fazer força, apenas o suficiente para que não escape.
É importante que faça o exercício diariamente, durante uns três ou quatro minutos, lendo qualquer tipo de texto. Aproveite o jornal que está acostumado a ler para fazer o exercício logo pela manhã. Atenção para a naturalidade: a pronúncia correta das palavras deve ocorrer naturalmente, sem que as pessoas percebam esforço de sua parte. Esse cuidado é tão importante que vou dar um conselho direto: enquanto não tiver desenvolvido uma boa dicção, prefira pronunciar as palavras de maneira defeituosa a dizê-las corretamente mas de forma tão artificial que as pessoas percebam seu esforço.

  Faça pausa no final do pensamento. Ao concluir o raciocínio, faça pausa para permitir que os ouvintes percebam bem o sentido da mensagem e reflitam sobre o que você acabou de falar.

  Aprenda a repetir as informações mais importantes. Procure repetir as informações que sejam relevantes usando palavras diferentes como se estivesse passando uma nova mensagem. Assim, não demonstrará que se trata de uma repetição e as pessoas terão mais chances de compreendê-lo.
Falando com boa dicção, usando a pausa de maneira adequada e repetindo as informações mais importantes, você que fala depressa poderá transformar essa característica num estilo positivo de comunicação. Se, ao contrário, você costuma falar muito devagar, e não se sente muito bem quando procura falar mais rápido, continue falando da mesma maneira, mas procure aprimorar alguns recursos que irão ajudá-lo a tornar sua comunicação mais eficiente:

  Olhe para os ouvintes durante as pausas. Ao concluir o pensamento, enquanto faz a pausa, continue a olhar para os ouvintes para não deixar quebrar a linha que prende você à platéia. Ao continuar olhando para as pessoas durante a pausa é como se você estivesse repetindo em silêncio o que acabou de dizer.

  Use a inflexão de voz correta para a pausa. Ao concluir o pensamento, pronuncie as palavras com a inflexão de voz apropriada, para demonstrar que encerrou o raciocínio. Algumas pessoas que falam devagar costumam usar a inflexão de voz de encerramento quando ainda estão no meio da frase, ou de continuidade quando estão encerrando. Essa atitude se constitui num grave defeito de comunicação que atrapalha a compreensão dos ouvintes e os desestimula a continuar prestando atenção.

  Volte a falar com mais ênfase. Depois das pausas mais prolongadas habitue-se a voltar a falar com mais energia, dando ênfase às primeiras palavras para demonstrar que naqueles instantes de silêncio você estava refletindo, optando pela melhor seqüência das idéias, e não que havia ficado em silêncio porque estava com dificuldade para encontrar as palavras.

  Elimine o ããã, ããã nas pausas. Cuidado com esses ruídos desagradáveis, muito comuns principalmente nas pessoas que falam muito devagar. Aprenda a ter paciência e esperar em silêncio que as palavras apareçam. Esses sons surgem porque nosso pensamento é muito mais rápido do que as palavras. Assim, já sabemos o que vamos dizer, mas as palavras ainda não apareceram para identificar esse pensamento e usamos o ããã como que dizendo “Eu sei o que quero falar, mas as palavras ainda não apareceram – o que quero dizer é ããã”. Por isso, resista e fique em silêncio até que a palavra surja. Com o tempo você notará, satisfeito, que o ruído começa a desaparecer. Tenho alunos que apresentam resultado excepcional, pois, assim que são alertados sobre a presença desse ruído na sua comunicação, imediatamente passam a vigiar a maneira de falar e conseguem já nas próximas frases fazer as pausas em completo silêncio. Nem sempre é assim, mas poderá ocorrer com você também.
Mantendo a comunicação visual com os ouvintes durante as pausas, usando a inflexão de voz apropriada ao encerrar o pensamento para fazer a pausa, voltando a falar com mais ênfase após as pausas mais prolongadas, e permanecendo em silêncio enquanto aguarda a palavra que irá corporificar o pensamento, você irá transformar sua característica de falar devagar num estilo positivo de comunicação.
Ângelo Majorana, em sua obra A teoria da eloqüência, defende tanto quem fala rápido, como quem fala devagar:
“Em boa verdade, há tantas razões para falar depressa como para discorrer lentamente. A velocidade agrada, geralmente, ao público, porque se lhe apresenta como espelho de uma consciência segura das suas convicções: parece a expressão imediata de um espírito sincero e, ao mesmo tempo, uma brilhante manifestação de sólidas qualidades intelectuais.
Pelo contrário, a lentidão é útil, não só porque permite saborear, ponto por ponto, as partes apreciáveis do discurso, mas também porque parece que – servindo-se o discurso, pouco a pouco, aos auditores – se convidam estes, mais franca e eficazmente, a colaborar com o orador, fazendo-lhe pesar cada palavra com balanças de precisão.”

Fale com ritmo agradável

O segredo da comunicação eficiente, entretanto, não está na velocidade da fala ou no volume da voz isoladamente. A comunicação expressiva, envolvente, está na alternância desses dois aspectos. Em determinados momentos devemos falar mais alto, em outros mais baixo, até sussurrando, como se convidássemos os ouvintes a prestar atenção redobrada; em alguns instantes devemos falar mais rápido, em outros mais lentamente. Assim, com esse ritmo vamos envolvendo e motivando as pessoas a acompanhar a mensagem que transmitimos.
Fique atento, porque se falar sempre com a mesma velocidade e o mesmo volume de voz o máximo que irá conseguir é provocar sonolência na platéia.

Durma bem

Há dois fatores que considero fundamentais para o bom resultado de uma apresentação: a qualidade do som e uma boa noite de sono.
Se você tiver de fazer uma apresentação importante procure descansar bem à noite, para que a voz esteja em boas condições no dia seguinte. Quando não dormimos bem a voz fica frágil, sem vida e não permite que a comunicação seja disposta e envolvente. Esse é um fator tão importante nas minhas apresentações que ao chegar à cidade onde vou fazer a palestra, sempre que posso, dirijo-me ao hotel e durmo o tempo que for possível. Às vezes uma ou duas horas de sono têm um poderoso efeito para o resultado da apresentação. Acate meu conselho – se você não dormiu o tempo suficiente, ao chegar à cidade aonde vai se apresentar, nada de ficar cirandolando sem rumo, visitando lugares desnecessariamente. Se estiver acompanhado de alguém, deixe que a pessoa fique à vontade e vá para onde desejar. Entretanto, passe a acompanhá-la somente depois da palestra. Sua voz vai lhe agradecer por esse cuidado.

Alimentação adequada

Sabe aquele muco que fica atormentando a garganta e o obriga a pigarrear? Ele ocorre principalmente por causa da ingestão de alimentos derivados do leite. Por isso, até três horas antes de falar evite esse tipo de alimentação.
O diafragma é um músculo localizado embaixo dos pulmões e extremamente importante no processo da respiração para falar. Sua movimentação é prejudicada quando há presença de alimentos muito gordurosos, ou feitos com temperos muito fortes. Por isso, evite também esses alimentos para que a respiração funcione de maneira mais livre.
A salinha VIP é um local propício para o envenenamento da voz. Nesse local você irá encontrar uma garrafa de café e de chá, normalmente feitos bem cedinho e que resistem bravamente até o momento em que você irá se apresentar. Enquanto você aguarda sua hora de falar, vai tomando um cafezinho aqui, um chazinho ali, e nem percebe que essas bebidas, tão presentes no nosso dia-a-dia, podem contribuir para aumentar a acidez e iniciar um desagradável refluxo gastresofágico que irá lembrá-lo durante toda a apresentação dos alimentos que ingeriu nas últimas três horas. Se estiver acostumado a tomar café ou chá, vá em frente, mas não exagere.
Evite também água com gás, muito gelada, e refrigerantes.
Os fonoaudiólogos recomendam sucos de laranja ou de limão, que produzem maior salivação, frutas mais consistentes como pêras e maçãs, e chás de frutas e ervas mornos.
Professor, mas eu gosto de tomar “umazinha” de vez em quando. Posso tomar uma dose só para dar uma calibrada e me deixar mais esperto para falar?
Cuidado. Um dia você toma uma dose para dar uma calibrada, depois vai precisar de duas, e chega o dia em que não vai conseguir falar se não tomar alguma bebida alcoólica. Se quiser tomar uma bebida dê preferência ao vinho tinto – e só uma taça. Evite tomar uísque e cerveja, pois, além de tornar a mucosa das cordas vocais mais rígida, fará com que a voz fique pastosa.

Um santo exercício

Se você quiser fazer um bom exercício para melhorar a fala, leia poesias em voz alta. O verso e a melodia da poesia irão contribuir para melhorar a cadência e o ritmo da fala e tornar sua comunicação mais agradável. Além disso, você irá aperfeiçoar a dicção, melhorar a respiração e aprenderá alguns versos que poderão ser usados com sucesso para ilustrar e dar mais colorido as suas apresentações.

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