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19 abr 2024

O prazer de publicar um livro

por Reinaldo Polito

Você já pensou em publicar um livro? Independentemente do tema que você queira abordar e da sua atividade profissional, esse é um projeto que vale a pena ser perseguido. Eu sei, é muito difícil e exige bastante sacrifício de tempo e de trabalho. Por outro lado, todos nós temos tempo, e usando um lugar-comum bem batido, temos exatamente o mesmo tempo – 24 horas por dia. Só que alguns de nós consumimos esse período de uma maneira, enquanto outros encontram formas diversas para usá-lo. Portanto, se você deseja mesmo publicar um livro comece reservando algumas horas por semana para concretizar esse plano. Não faça como a maioria que diz ter vontade de escrever um livro, mas a única atitude que toma é adiar, deixar para depois essa tarefa.
Saiba também que a dificuldade não se resume apenas em escrever, pois, além de descobrir um bom tema, você precisará se empenhar em pesquisas para colher material substancioso e interessante para envolver o leitor; será mais difícil ainda encontrar uma editora disposta a aceitar o projeto de publicação; depois você vai sofrer para que a obra chegue às livrarias; e o maior de todos os pesadelos será o de não ver sua produção intelectual exposta ao mercado comprador. De cada dez escritores que encontro nas livrarias, pelo menos oito reclamam do fato de os seus livros não estarem em destaque nas mesas das novidades ou dos mais vendidos. Os outros dois já nem reclamam mais por saberem que não vai adiantar nada. Os vendedores já se acostumaram tanto com essa choradeira que desenvolveram explicações próprias para cada caso, sendo a mais usada dizer que lá na seção dedicada ao assunto da obra a chance de vender é muito maior. Alguns acreditam, outros fingem que se convenceram com os argumentos e continuam esperançosos de que um dia seu querido livro se transforme em um famoso best seller.
Nesta altura você pode estar pensando: então, já que vou ter de passar por tudo isso o melhor que tenho a fazer é desistir. Essa é uma péssima decisão. Mesmo imaginando que você não consiga publicar, o fato de pesquisar e escrever será muito importante para o seu desenvolvimento pessoal. Você chegará ao final dessa empreitada muito mais experiente e preparado. Supondo que você consiga publicar e que o livro não seja um grande sucesso de venda, não encare o resultado como uma derrota pessoal, pois dos mil e tantos livros publicados todos os meses no Brasil só uns poucos conseguem se sobressair. Pense também que vender livro não deve ser a maior preocupação. O importante mesmo é saber que escrevendo a obra, você terá a oportunidade gratificante de compartilhar sua experiência com outras pessoas. Portanto, vale a pena tentar, independentemente do que ocorrer no final. Cada etapa a seu tempo, e a primeira delas é começar a escrever.

Um caso real

Eu já escrevi 15 livros e todos foram muito bem-sucedidos. Significa que as dificuldades que acabei de mencionar não existem? Acredite, são até maiores do que descrevi. Não se iluda, é uma luta que vale a pena enfrentar, mas que nunca tem fim. Se você observar os autores campeões de vendas, irá constatar que a maioria vive trocando de editora, pois sempre julgam que em outra casa poderiam vender mais. Todo escritor acha que seu livro é o melhor e que deveria estar mais bem exposto. E quando não conseguem vender como gostariam a culpa deve ser creditada a alguém, que de maneira geral recai sobre a editora. Lembro-me de quando participei de um programa de televisão, e ao meu lado estava uma psicóloga que também faria parte do debate. Enquanto não entrávamos no ar ela passou o tempo todo criticando a editora que não era competente para vender seu livro. Depois de ouvir as reclamações da autora eu perguntei se ela havia levado o livro ao programa para tentar mostrá-lo em algum momento. Como resposta ela me disse: você tem razão, sem me censurar acabou mostrando que a culpa é mais minha do que da editora.

O primeiro foi uma aventura

Fiquei motivado a escrever este artigo porque estou lançando mais dois livros novos e, como sempre, tenho a mesma ansiedade que senti ao ver um livro meu pronto pela primeira vez. Já se passaram 20 longos anos, mas parece que aconteceu ontem.
Talvez a história da publicação do meu primeiro livro, Como falar corretamente e sem inibições (Editora Saraiva), ajude a exemplificar os caminhos que um autor costuma percorrer.
Primeiramente, o tempo que consumi escrevendo-o: nove anos. Eu poderia justificar esse longo tempo com diversas explicações verdadeiras, como o fato de que alguns exemplos de discursos (incluídos na obra para facilitar a compreensão das técnicas recomendadas) foram substituídos quase uma dezena de vezes. Uns porque encontrei trechos de discursos mais apropriados; outros, entretanto, por simples deleite pessoal, apenas pelo prazer de observar as transformações produzidas no texto quando visitado pelo estilo diverso de diferentes autores; mas, na realidade, eu não tinha prática nem muita habilidade para escrever. Por isso, tive de refazer cada uma das páginas inúmeras vezes. Também fui perfeccionista. Na época em que eu me dediquei a escrever o livro havia em São Paulo duas grandes escolas de oratória que concorriam comigo, a do Professor Oswaldo Melantonio e a do Professor Admir Ramos. Quem os conheceu sabe o que significavam essas duas feras da comunicação. Só para você ter uma idéia de onde eu estava metido, basta dizer que o Professor Melantonio havia sido meu professor de oratória e foi o maior profissional da área nos 50 anos em que esteve em atividade. Para que nada saísse errado no livro eu escrevi cada um dos capítulos imaginando que os dois mestres concorrentes estavam postados em pé ao meu lado me observando escrever e aguardando que qualquer deslize fosse cometido para fazer uma crítica. Lógico que só pude revelar essa história agora, passados 20 anos.
Eu era muito ingênuo e pensava que terminado o livro encontraria inúmeras editoras disputando a tapas o “privilégio” de publicá-lo. Para aumentar ainda mais minha autoconfiança, no princípio da década de 1980, Nilson Lepera, hoje diretor comercial da Editora Saraiva, era meu aluno no curso de Expressão Verbal e, em uma das aulas, como eu estava entusiasmado com o progresso do livro, que aos poucos ganhava novos capítulos, comentei que logo a obra estaria pronta. Foi quando ele me perguntou se eu já havia assumido compromisso com alguma editora e, diante da minha resposta negativa, pediu que o procurasse assim que o livro estivesse concluído. Cerca de dois anos depois, com o último capítulo finalizado, liguei para avisá-lo e percebi que a história mudara de rumo: Polito, disse-me ele, verifiquei com o pessoal da editora sobre a possibilidade de publicar seu livro, mas há pouco interesse porque o assunto foge do nosso foco de atuação, que se restringe às obras didáticas e jurídicas.
Fiquei sem chão. Afinal, já estava até fazendo as contas dos direitos autorais que receberia. E, agora, por onde começar? Eu não havia suposto aquela negativa e não me preparara com planos alternativos. Aí começou a minha peregrinação mandando partes dos originais para diversas editoras e na maioria dos casos nem resposta recebia. Depois de esgotar todas as possibilidades, como última e única solução, fiz o levantamento de custos para composição do texto, diagramação, fotolito e impressão. Significava investir todas as minhas economias e me endividar por vários meses para cobrir os custos de publicação. No dia em que eu estava para bater o martelo e me comprometer com os diversos fornecedores, sem saber bem o motivo, resolvi ligar novamente para o Nilson e avisar que faria a publicação do livro por minha própria conta.
Ainda dentro da minha ingenuidade talvez quisesse mostrar a ele que minha vida podia continuar sem a editora dele. Se o meu avô escutasse essa história e soubesse dessa minha intenção, não tenho dúvida de que diria com seu jeito de gozador que isso só pode ser coisa de “salame”. O resultado desse telefonema, porém, foi surpreendente – ele me disse de maneira veemente: não faça isso. E explicou: O fato de o assunto não estar em nenhuma das nossas áreas não significa que eu tenha desistido, ao contrário, acho que seu livro poderia dar início à publicação das obras de interesse geral e, cá entre nós, tenho certeza de que será um sucesso histórico. Se arrependimento matasse, depois de ouvir suas palavras e pensar nas besteiras que rondaram minha cabeça, eu cairia duro antes de desligar o telefone.
Só que a história não estava concluída. Ele passara os originais que tinha em mãos para o editor responsável para que fizesse uma análise mais criteriosa e esse profissional aproveitaria o final de semana para dar um parecer. Foi o fim de semana mais longo da minha vida. Durante o dia eu ficava imaginando que parte do livro ele estaria lendo. Ficava envaidecido com os possíveis elogios que anotava no canto da página para o texto bem arrematado. Mais tarde me batia uma preocupação ao pressupor que com sua competência não via sentido naqueles exemplos velhos para os dias atuais. Demorei a pegar no sono no domingo e na segunda-feira tive que me segurar para não ligar para a editora logo às 8 horas da manhã. Às 9 horas em ponto disquei os números que sabia de cor. Conversa vai, conversa vem e em pouco tempo eu estava em sua jugular: e aí, qual foi o parecer do editor? E o Nilson, que evidentemente nem de longe tinha a mesma preocupação com o assunto, me respondeu com toda a naturalidade: rapaz, você não sabe o que aconteceu. Na correria ele acabou saindo e deixou os originais na gaveta. Mas, fica tranqüilo que ainda este mês vamos ter uma resposta. Agradeci, desliguei o telefone e fui dar uma volta de carro para atenuar minha frustração.

Pulos de alegria

Três dias depois recebi o telefonema que tanto esperava, com o Nilson me dizendo que estava peitando o projeto e assumia a responsabilidade pela publicação. Agradeci feliz, desliguei o telefone e comecei a dar pulos de alegria para comemorar a conquista. Não sei se o meu hoje querido amigo Nilson Lepera baseou essa profecia apenas na sua experiência e visão profissional ou em algum tipo de intuição. Conhecendo seu caráter e seu profissionalismo sei que só por amizade ele jamais tomaria essa decisão. Os anos que se seguiram mostraram que ele, felizmente, tinha toda razão. A área de interesse geral da Saraiva é uma realidade e o Como falar corretamente e sem inibições está fazendo história, pois é de longe a obra no gênero mais publicada no Brasil e acaba de alçar vôos muito maiores com publicações em vários países. Depois da 50ª edição passou a ser acompanhado de um CD com a gravação dos melhores discursos usados como exemplos da teoria desenvolvida, na voz dos próprios oradores. Nesse CD eu explico em que circunstâncias esses oradores se apresentaram, qual a técnica que utilizaram e em seguida o exemplo é dado na voz do próprio orador. A partir daí o sucesso que já era grande passou a ser ainda maior. O livro entrou para as listas dos mais vendidos do país e permaneceu nelas por três anos, sendo que em algumas delas figurou em primeiro lugar. Desde o seu lançamento caminhou bastante e chegou agora na 109ª edição. Entre suas proezas está o fato de ter sido selecionado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e para o programa Fome de Saber, que integra a ação do Governo Federal Quero Ler – Biblioteca para todos.
O livro ganhou outros parceiros com ótima aceitação dos leitores. Só para citar alguns exemplos, Assim é que se fala chegou na 27ª edição e permaneceu um ano nas listas dos mais vendidos, também em primeiro lugar em várias delas; Um jeito bom de falar bem e Fale muito melhor, que também entraram para as listas dos mais vendidos; e Gestos e postura para falar melhor, que atingiu 23 edições e é a única obra específica sobre o assunto publicada no mercado brasileiro. Desde o lançamento do primeiro livro publiquei mais 15 títulos que concorrem com ele nos espaços das vitrinas das livrarias. Na verdade essas obras estimulam ainda mais suas vendas – é só lançar um livro novo e o Como falar corretamente e sem inibições volta a ser exposto com destaque. E lá do alto das estantes, garboso, ele parece dizer aos novos livros que escrevo: sejam bem-vindos, mas não esqueçam que fui o primeiro, o iniciador dessa história. É uma fabulação, mas, afinal, se seu próprio título é Como falar, por que ele também não poderia contar essa vantagem, ainda que em silêncio?
Não sei o que teria sido da minha carreira profissional e da minha vida como escritor se o Nilson Lepera não tivesse aparecido no meu caminho e acre-ditado na qualidade do meu primeiro livro. Às vezes fico pensando qual seria a história desse livro que fez e faz tanto sucesso se eu tivesse feito sua publicação por conta própria. Conhecendo melhor o mercado editorial como conheço hoje, muito provavelmente ele não teria passado da primeira edição.
Minha estrela não parou de brilhar. Nos últimos anos encontrei outro profissional competente que me estimulou a escrever novos livros e a reescrever os antigos com uma linguagem mais leve e arejada – Rogério Gastaldo, gerente editorial da Editora Saraiva. Todos os seus projetos para as minhas obras obtiveram resultados excepcionais. Quando tudo parece estar pronto e acabado lá vem ele com novas e revolucionárias idéias – uma melhor que a outra.

As dicas para escrever
Talvez, quando começou a ler este texto, você tivesse a esperança de que eu iria ensinar como escrever um livro, ou que pelo menos desse algumas dicas de como iniciar esse trabalho. Posso assegurar que você mesmo vai encontrar os próprios caminhos. Se tiver dificuldade para redigir, inscreva-se num curso de redação. Se ainda não tiver o hábito de escrever, comece produzindo textos curtos sobre assuntos do cotidiano, só para praticar. Encontre uma pessoa experiente que possa dar sugestões e que o ajude a refinar o resultado da sua redação. Quando já estiver mais tarimbado tente publicar alguns artigos em jornais, revistas ou sites, assim já terá a opinião de outras pessoas sobre a sua atividade como escritor. Pode ser que esses artigos se tornem a base para os futuros capítulos do seu livro. Vai dar trabalho e exigirá persistência, mas com o tempo você irá se sentir cada vez mais desenvolto e competente para pôr suas idéias no papel ou na tela do computador. Não acredite muito nessa história de inspiração de escritor, pois o que vale é o trabalho e a dedicação. Você vai descobrir que escrever se aprende escrevendo e que quanto mais errar mais saberá como acertar. É um longo caminho que requer sua rápida decisão. Não deixe para amanhã o texto que você já poderia escrever hoje.
Não desista de um sonho antes de tentar realizá-lo. Se estiver mesmo interessado em escrever um livro e sentir que essa é uma importante aspiração da sua vida, vá em frente. Esteja consciente de que irá enfrentar dificuldades e obstáculos. Algumas vezes terá vontade de desistir. Durante alguns períodos deixará o texto do lado e terá que fazer muito esforço para retomá-lo. Entretanto, assim como eu e muitos outros escritores, talvez, você encontre pela frente um Nilson Lepera que saberá reconhecer o seu trabalho e o levará pela mão, ajudando-o a tornar o seu sonho de hoje em uma gostosa realidade. Mas, se isso não ocorrer, como eu disse no início, na pior das hipóteses, você será uma pessoa melhor, mais competente e mais bem preparada para enfrentar a vida e se sair vitorioso em seus embates.
Boa sorte. Espero encontrá-lo feliz em uma noite de autógrafos, agradecendo a Deus por não permitir que desistisse antes mesmo de ter tentado.
Quero aproveitar para dedicar minha carreira de escritor bem-sucedida a este profissional que, naquele momento em que nada existia, soube enxergar o caminho vitorioso que meus livros percorreriam. Serei sempre muito grato a você, Nilson Lepera.

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