Estimadas leitoras, caros leitores. Sejam bem-vindos(as) novamente a nossa coluna no prestigioso Justiça em Foco. Neste post, trazemos com muita alegria uma matéria sobre Gestão de Pessoas, tema que dentre outros nos propusemos a aqui abordar. Trata-se da Oratória para Advogados e Estudantes de Direito. Para tanto, recorremos à Palestra proferida pelo Professor Reinaldo Polito, no Salão Nobre da OAB/SP, nesse dia 24 de março de 2017, por nós honradamente presenciada.
O Palestrante, de início, saudou os presentes. “Boa noite!”; “É um prazer estar com vocês!”; “É um prazer enorme estar nesta casa!”, referindo ao lançamento de seu livro em 2008 nesta casa. Assim, Polito buscou dar dicas de comunicação, bem como desenvolvimento de comunicação, além de como se portar em conversas com clientes, em meios sociais, afinal a vida profissional do advogado não é só de sustentação oral.
Então, procurou tratar dos assuntos: “Como saber conversar?”; “Como ser bom de papo?”. No cenário, segundo Polito, é preciso ser um bom ouvinte; não ter “cara de coruja”; ser um ouvinte interativo (o interlocutor nota o interesse).
Em seguida, o Palestrante aponta para o bom comunicador, que sabe fazer perguntas apropriadas. Nesse panorama, o advogado deve ser a pessoa que fala mais, mas que aprende a ouvir pessoas que sabem conversar, devendo saber considerar as pessoas, para que a pessoa se sinta considerada.
Nesse quadro, conta a estória do Seu Luís, proprietário de um Sebo, na região central da Praça da Sé, em São Paulo / SP, região especial para ratos de livros. O experiente vendedor de livros negocia com o Palestrante uma obra rara. Polito ilustra, assim, toda a negociação com clareza, ritmo e discurso instigador. Desperta, então, a pequena consideração com as pessoas e a saída honrosa, para se manter um parceiro no futuro.
Polito revela-se, assim, um verdadeiro, genuíno contador de estórias, arrancando risadas da plateia. Com efeito, não conseguiremos reproduzir todas as estórias do mesmo modo aqui. Então, apenas indicamos algumas.
Com isso, destaca Waldir Troncoso Peres, como o maior orador do direito. Este palestrante teria recebido Prêmios / Homenagens no direito. Troncoso era realmente apaixonado pelo direito. Discursou para um evento com mais de 500 pessoas, tendo recebido um convite para paraninfo. De fato, “algumas pessoas matariam para serem defendidas por ele”, descontraiu Polito.
Cabe realmente mencionar um caso fantástico. Num lançamento, de uma obra coletiva, 15 oradores lançavam o livro. 10 autores estavam presentes. O último depois de todos falarem, sem ter mais o que dizer, apenas falou que se sentia como o oitavo marido da Elizabeth Taylor na noite de núpcias. Com efeito, todo o público depois disso lembraria do que o último orador disse e não do que os outros.
A certa altura da palestra, ocorreram problemas técnicos com a apresentação, mas Polito contornou o problema e se saiu bem.
Polito, assim, indica que o Brasil possui oradores excepcionais, inclusive, advogados, de modo que estes últimos têm fama de falar bem, o que, no entanto, nem sempre ocorre.
Nesse cenário, Polito surpreende a plateia, ao dizer que, na realidade, Rui Barbosa não foi um grande orador, que, se viesse para seu curso, seria reprovado. Trata-se, realmente, de um orador para ser lido. Para ouvi-lo era uma penitência. De fato, a “Oração aos Moços” não foi proferida por ele. Quanto ao “Águia de Haia”, trata-se de discursos folclores.
Por certo, Polito a certa altura indagou por que o advogado deve falar bem. E respondeu de bate pronto que o atributo se trata de mais da metade da competência de cada advogado, devendo, assim, desenvolver a boa comunicação.
Outro atributo importante para o advogado é desenvolver a credibilidade, segundo Polito. Para tanto, requisitos como naturalidade são essenciais. Aponta, então, que o advogado pode até errar na técnica, se desenvolver o assunto com naturalidade. Caso contrário, se acertar na técnica, mas titubear não terá o mesmo efeito.
Desse modo, o conferencista alerta para se comunicar com energia, entusiasmo, envolvimento. A emoção, assim, traz credibilidade.
Polito, com isso, traz à tona Coelho Neto. Trata-se de um grande orador que poucas pessoas conhecem. Realmente, um dos melhores oradores de improviso. Neto torcia para o Fluminense e teria sido convidado para ser Paraninfo. Ocorre que o dia do discurso coincidiu com o jogo de seu time. Sem ter preparado o discurso para a ocasião, e saindo correndo para realizá-lo, fez o discurso, com o apoio do papel, que na realidade estava em branco. Na verdade, fez o discurso de improviso e se saiu muito bem.
Sendo assim, dá a primeira dica. O expositor deve ser um contador / selecionador de estórias. Para tanto, deve anotar os passos da estória, lapidar a estória, contextualizar a estória nas conversas, as estórias, portanto, devem ser curtas, inéditas e interessantes.
A segunda dica, por sua vez, refere-se ao fato de o expositor fazer um contato leve, com presença de espírito, devendo segmentar o público. Isto porque um público bem preparado entende uma ironia fina, uma mensagem subentendida. Enquanto um público de nível intelectual mais baixo não entende a brincadeira.
Polito, então, alerta para o contato com a imprensa. Atenção! Não se deve fazer ironia, caso contrário pode-se levar ao pé da letra, de propósito. Deve-se, assim, deixar a mensagem clara.
Outro orador citado pelo Palestrante trata-se de José do Patrocínio, que, com um discurso pobre, recebia vaias em certa ocasião. Todavia, quando alguém na plateia gritou: “Cala boca, negro!” – cutucou-se o seu espírito e, então, fez uma reviravolta. De derrotado, transformou-se e realizou um grande discurso.
Polito, assim, atentou para a importância de demonstrar conhecimento, falando bem. Ressaltou igualmente a necessidade de coerência.
Entre outros, destacou os sermões do Padre Antonio Vieira e os discursos de José Bonifácio.
A seguir, importa trazer a relevância da “Voz”, na relação entre advogado e ouvintes. Deve-se ter dicção, pronunciando bem os sons das palavras. Deve-se atentar para o modo de falar. E, assim, realizar uma apresentação marcante. Outro ponto seria o modo de se cumprimentar alguém. Não se deve cumprimentar de qualquer jeito. Há realmente uma forma adequada de se fazer isso, preferencialmente, com firmeza nas mãos.
No que se refere ao volume da “Voz”, é preciso antes conhecer bem o ambiente. Demonstrar energia e disposição, falar para fora não para dentro. Regular a velocidade da fala, atentando para a alternância, trazendo colorido para a informação, com ritmo, tempero.
Atenta-se, com isso, para o vocabulário. Não se devem usar gírias, palavrões, palavras difíceis. Cuidado! Atenção para os vícios! Deve-se evitá-los:. “ahã!” ; “né!” (este último, segundo Polito, seria o chefe da máfia!)
Outro ponto importante seria a expressão corporal, atentando-se para o corpo em comunicação, para os gestos, sendo desaconselhável manter as mãos nas costas, nos bolsos, braços cruzados. Deve-se, assim, ter uma postura humilde de forma a não olhar por cima da plateia (arrogante). Nesse contexto, deve-se atentar para as pernas e sua gesticulação.
Com relação à comunicação visual, deve-se prestar atenção para o contato visual. Não se deve fugir o olhar e, ao mesmo tempo, não olhar fixamente.
Ao final da Palestra, Polito sugere que conheçam seu site e suas redes sociais: Instagram; Facebook; onde se encontra a reflexão de Como não ficar desesperado para apresentar em sala de aula.
Vale, antes do fim, destacar: na ocasião da conferência, entregou-se um panfleto com Dez Dicas para falar em público melhor, sem medo, baseado nas obras que publicou.
Cabe aqui apenas enumerá-las: 1) Seja você mesmo; 2) Pronuncie bem as palavras; 3) Fale com boa intensidade; 4) Fale com boa velocidade; 5) Fale com ritmo; 6) Tenha vocabulário adequado; 7) Cuide da gramática; 8) Tenha postura correta; 9) Tenha início, meio e fim; 10) Fale com emoção.
Finalmente, destacamos para reflexão trecho relevante da obra de Polito, para demonstrar a importância da oratória para advogados e estudantes de direito: “Aristóteles dizia que somente o homem, entre todos os animais, possui o dom da palavra; a voz indica tão-só dor e prazer, e por essa razão não foi outorgada a outros animais. A palavra, contudo, tem a finalidade de fazer entender o que é útil ou prejudicial, o que é justo e injusto.”
E, assim, Polito conclui a palestra, dizendo que não se devem deixar obstáculos atrapalhar o discurso, até mesmo problemas técnicos da apresentação.
Nicholas Merlone – Mestre em Direito pelo Mackenzie. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Membro do OCLA (Observatório Constitucional Latino Americano) e do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). Professor Universitário, Pesquisador e Advogado. Fale comigo: nicholas.merlone@gmail.com
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