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24 abr 2024

Seja gentil, por favor. Muito obrigado

por Reinaldo Polito

Ser gentil é um ótimo negócio. Você faz investimento sem dinheiro e recebe dividendos excepcionais, que vão muito além do retorno financeiro e do prestígio social. Em curtíssimo prazo será recompensado com alegria, felicidade e a consciência de que tratando bem as pessoas estará semeando relacionamentos duradouros e amizades sinceras. Reflita um pouco sobre suas atitudes e verifique, sem resistências ou preconceitos, como tem sido seu contato com as outras pessoas. Se concluir que não está sendo muito gentil e atencioso, talvez possa rever seu comportamento e passar a ter uma conduta que lhe proporcionará uma convivência mais saudável e, conseqüentemente, melhor qualidade de vida.

Have a nice day. Essa frase, que se transformou numa espécie de chavão entre os norte-americanos, mostra bem como a civilização das metrópoles pode deteriorar o espírito de solidariedade e de interesse sincero pelo próximo. Esse “tenha um bom dia” dos norte-americanos dos grandes centros, como Nova Iorque e Chicago, não tem nenhum significado, a não ser demonstrar, na maioria das vezes, que a obrigação de ser gentil foi cumprida. Chegam ao cúmulo de usar essa frase para encerrar a conversa e informar que o tempo de atendimento a uma pessoa já está esgotado e que mais alguém está esperando para ser atendido. Tanto que em seguida passam a olhar por cima do ombro daquele que está a sua frente e despejam outro chavão, também sem nenhum significado, àquele que está logo atrás aguardando: “May I help you?”, que, salvo raríssimas exceções, não quer dizer “posso ajudá-lo?”, mas apenas “desembucha logo, porque eu não tenho tempo para perder”.

Estou citando os norte-americanos dos grandes centros porque dá mais prazer em meter o pau em gente poderosa, principalmente quando se está distante e não se pode revidar. Mas, o exemplo se estende com peso semelhante aos italianos de Roma e Florença, aos franceses de Paris e, para tristeza nossa, a alguns brasileiros de São Paulo e de outras importantes capitais do nosso país. Que pena! Se nos ativéssemos à importação de tecnologia e metodologias educacionais seria um bom negócio, pois estaríamos aproveitando apenas o que eles possuem de melhor. Entretanto, na mesma esteira, passa pelas nossas fronteiras também o que eles têm de ruim. Sei que alguns já estão criticando essa minha tese e argumentando que esse comportamento mal-educado de alguns brasileiros não tem nada a ver com a maneira de viver dos habitantes das grandes cidades do Exterior. Posso me dobrar a essa linha de raciocínio e concordar que na verdade não copiamos ninguém. Fomos competentes em desenvolver sozinhos a arte de não ser gentis.

Bem, culpando ou não americanos, italianos e franceses, que ocupam com méritos o pódio dos mais mal educados, o certo é que essa praga está se alastrando com velocidade incontrolável em nosso meio. Se você ainda não sabe, sente-se e prepare-se para receber pasmado esta informação: algumas lojas sofisticadas ostentam vendedoras que acham chique esnobar os clientes, pois assim, mal- educadas, argumentam, poderão preservar sua condição social. É tanta idiotice que não há nem o que comentar. Só não entendo como é que essas pessoas mal- tratadas ainda continuam a freqüentar essas estrebarias, se poderiam procurar outros lugares que as respeitassem mais.

Atitudes gentis

Segurar a porta de entrada do restaurante ou do elevador para que a pessoa a encontre aberta é uma atitude tão simples e demonstra educação, generosidade e gentileza. Agindo assim, você não estará apenas sendo simpático à pessoa que foi beneficiada com seu gesto, mas também, e principalmente, aos olhos de todos os que estão a sua volta. Mesmo que não o conheçam, irão avaliar seu comportamento como sendo de alguém de boa formação e que deve ser admirado. E, se alguém for gentil e segurar a porta para você, não se esqueça de agradecer. Tenho observado pessoas que passam duras e insensíveis diante daquele que foi gentil em segurar a porta, como se aquela atitude fosse uma obrigação. São vistas como mal-educadas, grosseiras e, sem que pronunciem uma única palavra, angariam antipatias.

É um gesto gentil ceder o lugar, no ônibus, no metrô, numa sala de espera às pessoas mais velhas, ou de qualquer idade que estejam carregando crianças no colo, sacolas, ou objetos que claramente demonstrem algum tipo de desconforto. Esse hábito que fazia parte das nossas tradições começa a ser esquecido. Pior ainda quando o homem, ao invés de oferecer o lugar a uma senhora idosa, ostensivamente dá preferência a uma moça jovem e saudável. Talvez nem ela que foi beneficiada o veja com bons olhos. Os que estão a sua volta, entre imbecil e cafajeste, terão uma boa margem de avaliação.

Você é convidado para uma festa ou um jantar na casa de amigos. Para saber que tipo de expectativa eles terão, basta se colocar no lugar deles e imaginar como gostariam que seus amigos agissem no dia seguinte. Lógico que você esperaria que dessem um retorno dizendo como o encontro tinha sido agradável. Por isso, não negligencie, ligue para eles e fale com detalhes, de maneira natural, sobre tudo o que foi positivo. Não seria mal se mandasse algumas flores acompanhadas de um cartão elogiando a maneira como o recepcionaram. Não dará nenhum trabalho e eles lembrarão de você sempre com simpatia.

Meu amigo Nilson Lepera é uma pessoa extremamente ocupada, e se tivesse o dia com 36 horas ainda seria pouco para dar conta de suas incumbências como diretor comercial de uma das mais importantes editoras do País. Nem por isso, entretanto, ele deixa de ser gentil. Sempre que encontra alguma informação sobre a minha atividade pega sua caneta com a inconfundível tinta verde azulada e escreve de próprio punho “assunto de interesse do Polito”. O fato de saber que ele é muito atarefado torna seu gesto ainda mais simpático. Esse é um hábito gentil que vale a pena desenvolver – sempre que encontrar uma notícia ou receber uma correspondência com informações que estejam relacionadas com a atividade profissional ou o hobby de uma pessoa conhecida, faça anotações pessoais e encaminhe para ela. Ainda hoje guardo com carinho os cartões que acompanhavam os livros de oratória enviados pelo professor Sólon Borges dos Reis, que durante muitos anos presidiu o Centro do Professorado Paulista e a Academia Paulista de Educação, da qual também tenho a honra de ser membro. Como ele sabia que eu tinha muitos livros, e que, provavelmente, já tivesse também aquele que estava me presenteando, com freqüência fazia uma ressalva carinhosa: “Ao amigo e mestre da oratória Polito, que provavelmente já possui este livro, mas que com certeza dará a ele um bom destino’. E eu dava mesmo, pois presenteava alguém com o exemplar que estava na minha biblioteca e ficava com o que recebia do querido professor Sólon. Ao folhear os livros que ele me mandava ficava pensando como um homem tão importante e com tantas responsabilidades tinha tido tempo de lembrar do que era significativo para mim.

Poucas situações são mais desagradáveis do que estar numa conversa e ficar à margem, como se você não existisse. Quando a pessoa é inibida, o constrangimento é ainda maior, pois além de ficar marginalizada ela se sente pressionada e sem condições de esboçar reações que a permitam participar. Se você incluir na conversa uma pessoa tímida ou que se sinta deslocada numa reunião ela jamais o esquecerá. Mesmo que o assunto não tenha nenhuma ligação com ela, olhe em sua direção, peça sua opinião, pergunte sobre o filho dela, enfim, mostre que ela tem importância. Essa atitude gentil a sensibilizará e a deixará sempre agradecida.

Se você for homem e não tiver o hábito de abrir a porta do carro ou puxar a cadeira para uma mulher, talvez se sinta constrangido quando começar a tomar essas atitudes, pois terá a impressão de que todos olham em sua direção para ridicularizá-lo. Mas é só impressão, em pouco tempo terá se acostumado e passará a agir com espontaneidade. Nessas situações não hesite, aja com determinação e comporte-se de maneira convicta, como se fosse uma iniciativa bastante natural. Se você for mulher e receber esse tipo de gentileza, lembre-se de agradecer e se mostrará muito gentil se em locais movimentados, escuros ou em dia de chuva retribuir abrindo a porta do motorista por dentro, para facilitar a entrada do seu companheiro.

Por falar em gestos gentis, mandar flores, independentemente de ser homem ou mulher, será uma atitude sempre admirada e com excelentes resultados para o relacionamento.

Palavras mágicas

Algumas expressões são mágicas para conquistar as pessoas. Mas, por preguiça ou falta de sensibilidade, alguns estão deixando de usá-las. Dizer “por favor” ao iniciar ou concluir qualquer pedido reveste a frase de uma delicadeza que pode afastar barreiras que nem os mais poderosos argumentos conseguiriam ultrapassar. E não me refiro apenas à comunicação oral, pois, com essa expressão na redação de uma carta, de um relatório, de um e-mail, ou mesmo de um simples bilhete, a mensagem adquire poderes adicionais para persuadir e demover as mais resistentes objeções. Lembre-se, todavia, de que o tom de voz tem importância fundamental nesse processo. De nada adiantará você pedir “por favor” com um tom de voz que indique uma atitude autoritária, ou apenas uma espécie de obrigação de alguém que deseja apenas se valer de uma técnica, de um recurso que não corresponda ao que estiver sentindo. As pessoas irão perceber essa artimanha e duvidarão de suas intenções. Fale com sinceridade e demonstre que reconhece que a pessoa fará algum tipo de sacrifício ou de esforço para atendê-lo, ainda que seja obrigação dela.

Quer ser gentil? Então não economize a palavra mais importante que tem à disposição, “obrigado”. Embora o Aurélio estabeleça apenas três conceitos para definir o sentido de obrigado, eles são bastante abrangentes e podem se encaixar facilmente em praticamente todas as circunstâncias: agradecido, grato, reconhecido. Por isso, agradeça a todas as pessoas o tempo todo. Se alguém lhe der passagem, diga “obrigado”, se lhe der atenção, diga “obrigado”, se atender a um pedido seu, diga “obrigado”. Não existe nada tão fácil e mais eficiente do que dizer “obrigado”. Se o que lhe fizerem for muito importante, estique um pouco mais e diga “muito obrigado”, será uma forma simpática de dizer que você ficou realmente agradecido.

Os comerciantes que tiveram de sobreviver a duras penas, procurando manter seus negócios a cada dia, aprenderam o valor das gentilezas. Para eles, dizer obrigado, pois não? em que posso servi-lo?, volte sempre, se tornou um hábito natural como respirar ou se alimentar. E, por saberem como os clientes são importantes, usam essas expressões com sinceridade, cativando as pessoas com as quais precisam se relacionar.

Também não perca a oportunidade de cumprimentar as pessoas pelos feitos delas. Se alguém ou alguma pessoa da família dele recebe uma homenagem, é aprovado num concurso, é citado com destaque, cumprimente-o. Parabéns é uma palavra que as pessoas esperam ouvir pelas conquistas que obtiveram. Essa expressão sempre que possível deverá ser acompanhada dos motivos da façanha; por exemplo, parabéns por ter conseguido passar no vestibular; parabéns pelo nascimento do filho. Fique atento e, ao descobrir que alguém tem motivo para ser cumprimentado, tome a iniciativa.

Gentileza nunca sai de moda

Lembro-me de que, quando eu era garotinho, as pessoas mais velhas costumavam dizer que gostavam muito de alguém porque ele era educado. E tinham essa opinião por um motivo, ele sabia ser gentil. Com o passar do tempo esse comentário permaneceu o mesmo, só que mais escasso, pois as gentilezas ficaram mais raras e, em alguns casos mais graves, caíram em completo desuso. Isto é, a gentileza continua sendo admirada, mas nem todos se apercebem de sua importância para a eficiência da comunicação e fortalecimento dos relacionamentos. Quanto maior o centro onde vivem as pessoas, de maneira geral, menos gentis se tornam. Você pode constatar a diferença de tratamento nos pedágios ao longo das estradas. Naqueles localizados próximos das grandes cidades, onde provavelmente moram seus funcionários, as pessoas desejam boa viagem de maneira automática, sem nenhum sentimento estampado no semblante, como se agissem assim apenas por obrigação. À medida que você for se afastando dos grandes centros, em direção ao Interior, ao passar pelos pedágios localizados nas proximidades das pequenas cidades, os cumprimentos e o desejo de boa viagem experimentam sensível transformação. As palavras são as mesmas, mas a maneira de proferi-las é outra, com muito mais simpatia e sinceridade. A vida nas grandes cidades afasta as pessoas umas das outras e as tornam mais insensíveis e individualistas. Infelizmente, quanto mais nos desenvolvemos, quanto mais civilizados ficamos, passamos a ser mais deseducados e menos gentis. Precisamos lutar contra essa tendência, se não para fazermos os outros mais felizes, pelo menos, egoisticamente, para o nosso benefício, pois, sendo essa uma atitude admirada, agindo assim só teremos a lucrar.

Ainda há esperança

Nos últimos anos voltamos às origens históricas e fomos invadidos novamente pelos nossos primeiros colonizadores, os portugueses e espanhóis. Só que agora essa invasão é muito sadia e veio em forma de investimentos financeiros. Poderosas organizações de Portugal e da Espanha investiram vultosas quantias na aquisição de empresas de telecomunicação, energia, hotelaria e, de maneira acentuada, na área financeira. Só para dar uma idéia, nos últimos sete anos Portugal investiu no nosso mercado US$ 13 bilhões, que correspondem aproximadamente a 15% do Produto Interno Bruto português. A Espanha é o segundo maior investidor externo no Brasil, aplicando recursos que ultrapassam US$ 25 bilhões, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Bem, essas informações são ótimas para a economia brasileira, mas qual é a relação delas com o nosso tema? De todos os países que tive a oportunidade de conhecer, Portugal e Espanha são os que possuem população mais simpática e gentil, independentemente do tamanho da cidade onde vive. De Lisboa ao Porto, de Madri a Sevilha, passando pelos mais distantes lugarejos, encontraremos sempre pessoas amáveis, atenciosas e hospitaleiras. Considero essas regiões um oásis de gentileza. Ora, com a vinda dessas organizações para o Brasil iremos receber também os simpáticos portugueses e espanhóis, de certa maneira oxigenando a presença de alguns mal-educados que vieram para o Brasil, mas não assimilaram a docilidade dos brasileiros, e pior, fazendo-nos correr o risco de que fôssemos contaminados pela antipatia deles. E essa convivência poderá fazer com que possamos preservar as características de povo cordato, comunicativo, multirracial, pacífico e de boa índole, que nos projetaram de maneira positiva em todo o mundo. Sei que talvez seja apenas uma fantasia de minha parte e que essa simbiose jamais se concretize, mas a vontade de conviver com pessoas gentis e educadas é tão grande que vale a pena nos apegarmos a qualquer esperança, até mesmo distante como essa.

Vamos fazer nossa parte, investir no aprimoramento da nossa gentileza e conscientizar as pessoas que estão ao nosso redor para que também caminhem nessa direção.

Acredito muito que as pessoas levam consigo o que possuem de melhor e de pior. Para ilustrar essa afirmação há uma história bastante conhecida, mas bem apropriada a essa tese:

Um velho sábio estava sentado no alto de uma colina admirando a distância a cidade onde morava. Um viajante, ao passar por ele, perguntou como eram as pessoas daquela cidade. O velho sábio respondeu com outra pergunta: como são as pessoas da cidade de onde você vem? O viajante respondeu que eram pessoas egoístas, sem caráter e falsas. Ao ouvir a resposta, o velho deu a informação que o viajante desejava: aqui as pessoas também são assim, egoístas, sem caráter e falsas. Pouco mais tarde, outro viajante passou pelo velho sábio e lhe fez a mesma pergunta. O ancião também devolveu a questão como havia feito com o anterior. Desta vez ouviu do viajante que na cidade de onde vinha as pessoas eram solidárias, honestas e confiáveis. Depois de ouvi-lo atentamente lhe passou a informação que estava desejando: “Aqui também as pessoas são solidárias, honestas e confiáveis. Tenho certeza de que será muito feliz na nossa cidade”. Depois que o viajante se retirou, um menino que acompanhava o velho sábio lhe perguntou intrigado como pôde dar informações tão diferentes para a mesma pergunta. O velho então pode esclarecer: os lugares são como as pessoas vivem dentro de si mesmas. O primeiro viajante levará a amargura que carrega consigo para onde for, o segundo levará a alegria e a felicidade de sua vida também para onde for.

Se formos gentis e amáveis, encontraremos pessoas educadas e simpáticas, se, ao contrário, desprezarmos as gentilezas e nos comportarmos mal, iremos nos deparar com pessoas antipáticas e distantes.

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