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04 abr 2018

Surpresas desafiam quem fala em público

Quem fala em público sabe que cada experiência diante da platéia poderá ser um novo desafio. De repente, quando tudo parece estar sob controle, surge o imponderado. Em determinada circunstância aparece um bêbado na platéia que resolve “jogar água no seu chope”, e em voz alta começa a falar nada com nada.

Em outro momento é a pancadaria de uma reforma nas imediações do evento. E assim, os mais diferentes contratempos, como gente que pede para fazer uma pergunta e resolve fazer um discurso; um garçom desastrado que deixa cair uma bandeja com todos os copos; som que não funciona; imagem do projetor que não entra.

Há pouco tempo ocorreram dois fatos que quase prejudicaram minha apresentação. O primeiro foi em uma palestra que fiz em Manaus. Chequei com cuidado todos os detalhes para evitar surpresas, mas não adiantou. O material que seria usado como visual estava na mala que despachei. Só que o vôo era nº 1640, e o atendente se enganou e marcou 1648. A bagagem que deveria ir para Manaus foi parar em Porto Seguro.

Consegui que me transmitissem de São Paulo as imagens que seriam projetadas pelo computador, mas não os filmes que serviriam como ilustração. Deu para manter a calma e pus em funcionamento um plano alternativo: substituí as imagens por algumas histórias que sempre levo na manga. Deu certo.

Como desgraça pouca é bobagem, coincidentemente, uma semana depois fui fazer uma palestra em Goiânia. A mala chegou direitinho. Entretanto, a surpresa estava reservada para outro incidente. Na hora marcada para a palestra caiu uma tremenda chuva, acompanhada de um vento muito forte e, como conseqüência, o auditório ficou totalmente no escuro.

A platéia de mais de 600 pessoas aguardou pacientemente na escuridão durante uma hora e quinze minutos. Como não havia previsão de quando o problema seria resolvido, pedi que fizessem a minha apresentação para que eu pudesse falar mesmo no escuro e sem microfone.

Chegaram a me apresentar no escuro, mas no exato momento em que me dirigi à tribuna a energia voltou. Também nesse caso, eu substituiria todas as imagens por histórias com o objetivo de ilustrar a palestra e entreter os ouvintes. Apesar do transtorno deu certo.

Interessante que em conversa com o Max Gehringer comentei esse episódio e ele me disse surpreso: que baita coincidência, Polito. Nesse mesmo dia fiz palestra em Belo horizonte e deve ter caído lá o mesmo toró que passou por Goiânia. Também ficamos sem energia, só que no meu caso continuamos no escuro.

Perguntei como ele havia se virado. Max respondeu que fez adaptação de uma famosa história contada pelo extraordinário humorista José Vasconcelos, que de maneira resumida foi interpretada pelo comediante da seguinte maneira:

‘No meio do espetáculo apagam-se as luzes. O teatro fica na mais completa escuridão. A platéia permaneceu em seus lugares, imaginando que se tratava de um curto-circuito. E eu senti que aquela pausa forçada estava jogando o espetáculo no chão. A coisa mais importante num espetáculo é manter o ritmo sempre vivo para que o público esteja preso ao mesmo. E hiatos como aquele derrubam uma apresentação’.

E então, na escuridão, o Zé (Vasconcelos) acende a vela e conta a história do velhinho e da velhinha (criada propositalmente, segundo observação empolgada do Max, para ser tão longa quanto a situação exigisse. Poderia durar 30 segundos ou dez minutos).

O velhinho e a velhinha vão a um hotel, as luzes se apagam e eles recebem uma vela para ir ao quarto. Na hora de dormir, nenhum dos dois tem sopro suficientemente forte para apagar a vela. E aí começam a chamar gente para ajudá-los.

Entretanto, sem sucesso, porque cada um dos que chegam sopram de um jeito diferente – para cima, para baixo, para o lado, com a bochecha murcha, com a cabeça torta, e a vela continua acesa. Até que chega o gerente, que toma um imenso e looongo fôlego, e aí apaga a vela com os dedos.

O que José Vasconcelos fez ao contar a história dos velhinhos tentando apagar a vela, enquanto esperava a energia elétrica do teatro voltar, foi um bom exemplo de como usar a circunstância na comunicação. Sobre essa história o Max fez um comentário curioso: hoje a falta de luz poderia ser isso mesmo, ou o notebook que pifa, ou a lâmpada do retroprojetor que queima. Desgraças durante uma apresentação nunca desaparecem, apenas ficam mais tecnológicas…

A adaptação que o Max fez em Belo Horizonte foi acender isqueiros no lugar da vela e completou assim sua palestra. Segundo ele me disse, os ouvintes o cumprimentaram tanto pela solução que encontrou ao usar os isqueiros quanto pelo conteúdo da palestra. Essa eu gostaria de ter visto. Acho que daqui para frente vou andar com um isqueiro no bolso.

Por isso, independentemente da sua experiência na arte de falar em público, precisará sempre ficar atento para o imponderável. Se você for iniciante, não desanime diante das primeiras dificuldades. Elas são normais e acontecem com quase todos que estão começando.

Se você já tiver hora de vôo (de tribuna para ser mais exato), saiba que não pode negligenciar nunca, pois quando menos esperar ocorre uma dessas surpresas que podem tirar o chão do orador.

 

Superdicas da semana:

– Tenha algumas histórias interessantes para substituir a falta de visuais.

– Esteja sempre pronto para lançar mão de um plano alternativo.

– Procure manter a calma, por maior que seja o contratempo.

– Não reclame de problemas com equipamentos. Aproveite para brincar com esses fatos.

Se desejar conhecer outras dicas de comunicação entre no meu site  https://reinaldopolito.com.br/portugues/dicas.php?id_nivel=15

Livros de minha autoria que tratam desse tema: “Como falar corretamente e sem inibições”, “Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação” e “Superdicas para falar bem” (também em audiolivro), publicados pela Editora Saraiva.

 

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