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23 abr 2024

Torne-se um palestrante

por Reinaldo Polito

Talvez você mude o rumo de sua vida depois de ler este texto. É possível que, a partir de hoje, sem pôr em risco a posição que conquistou, ou que ainda pretende conquistar, descubra uma forma mais interessante de se realizar. Vou propor um grande desafio para sua carreira – a chance de se transformar em um palestrante. Peço-lhe apenas que não conclua de maneira precipitada que não tem condições de se apresentar diante de plateias, ou porque não sabe falar em público, ou pelo fato de não ter o que falar – isto é, não desista antes de começar.

À primeira vista, a ideia poderá parecer meio absurda, e, para a maioria, inatingível. Mas, se você resistir um pouco a esse negativismo natural e der uma pequena oportunidade a si mesmo de avaliar essa minha proposta, talvez se surpreenda com um desafio que vale a pena ser considerado.
Lógico que não é simples, tampouco fácil e garantido, mas o risco é zero, e, se no fim não der certo, você não perderá nada; ao contrário, terá adquirido mais conhecimento e solidificado o que já aprendeu.
Portanto, deixe as resistências de lado, mantenha a mente aberta e arejada e passe a considerar a possibilidade de se transformar em um palestrante, e quem sabe um dia em um palestrante renomado.

O tema de sua palestra

Por enquanto, não se preocupe muito em saber que tipo de assunto o mercado está desejando ouvir, pois essa tarefa deverá ser uma das últimas pesquisas que irá empreender. O que importa nessa primeira fase é descobrir quais são os assuntos que você já domina, ou que tenha muito interesse em conhecer. Sim, porque o projeto de se tornar um palestrante só dará resultado se você se propuser a falar de um tema pelo qual esteja apaixonado. Deverá ser um assunto que lhe dê muito prazer, que o motive a pesquisar, a saber cada vez mais sobre ele. E, quanto mais conhecer a matéria que decidir estudar, mais envolvido ficará. Nós somos assim, apaixonamo-nos pelos assuntos que conhecemos e dominamos, entretanto temos tendência a repudiar os temas que desconhecemos, ou sobre os quais possuímos poucas informações.

Por isso, faça um cuidadoso inventário dos assuntos que conhece mais. Pode ser uma disciplina escolar, às vezes até aquela que o tenha deixado para recuperação. Faço essa sugestão complementar porque conheci pessoas que, por terem sido reprovadas em determinadas matérias, precisaram estudar tanto o assunto que… acabaram se apaixonando pelo tema. Talvez você tenha um hobby para o qual se dedicou boa parte da vida. Pense também nos desafios que enfrentou, nos problemas que superou, em uma fase que o tenha levado para o fundo do poço e que o obrigou a encontrar forças para se reerguer e continuar trabalhando e vivendo. Qualquer assunto será um bom tema, desde que você possa se apaixonar por ele.

Não tente agora, nesse primeiro instante, analisar se as pessoas iriam ou não se interessar pelo assunto que escolher. Primeiro, porque qualquer tema poderá ser atraente, desde que abordado de maneira interessante. Depois, o assunto que você eleger, se não empolgar as pessoas por si, poderá servir como excelente meio para apoiar outro tema que conquiste maior receptividade.

Veja o caso, por exemplo, de nosso campeoníssimo Gustavo Borges. Quando eu o preparei para fazer palestras, foi possível aproveitar sua fama de campeão e de excelente atleta para associar o planejamento e a preparação da carreira vitoriosa que empreendeu com o mundo corporativo, mostrando como as empresas poderiam obter melhores resultados seguindo orientação semelhante.
Assim como também o exemplo de meu querido amigo Pasquale Cipro Neto, que, em meio a milhares de professores de português espalhados por todos os cantos do país, destacou-se como excelente palestrante e vive voando de um lado para outro, atendendo a convites das mais importantes organizações que desejam ouvi-lo falar sobre questões da língua portuguesa.

Por isso, deixe de lado agora a preocupação com os assuntos que poderiam interessar e empolgar as pessoas e concentre-se apenas em descobrir quais são os temas que já estão fazendo parte de sua vida.

Nada de censura

Você ainda não sabe como as informações serão utilizadas e, mesmo que tenha alguma ideia da maneira como deseja expor o assunto, não se precipite em fazer uma seleção rigorosa dos itens que poderão ou não ser úteis para a palestra. Às vezes, uma informação que hoje você considera irrelevante no fim poderá ser muito apropriada como um exemplo, uma ilustração ou um dado de apoio. Empenhe-se, portanto, em relacionar todos os detalhes que puder encontrar sobre o tema, desde os que julgar mais importantes até aqueles que considerar inconsistentes ou desnecessários.
Tenha uma caderneta à mão e carregue-a no bolso aonde você for. Anote tudo o que se relacionar direta ou indiretamente com o assunto. Sempre sem censurar. Insisto que o detalhe insignificante hoje poderá ser precioso na preparação final.

Você como primeira fonte de pesquisa

Se você elegeu um assunto para desenvolver é porque já possui algum conhecimento sobre ele. É bem provável até que domine a matéria com profundidade. Por isso, você deverá ser a primeira fonte de pesquisa para você mesmo. Dedique um bom tempo para relacionar tudo o que já sabe sobre o tema, quais os itens que conhece com maior profundidade, os pontos sobre os quais tem poucas informações e onde adquiriu esses conhecimentos. Relacione livros, revistas, jornais, palestras, professores, enfim, todas as fontes a partir de onde possa ter aprendido sobre o tema.

Faça uma boa revisão em todo esse material e aprofunde ainda mais o conhecimento que possui – afinal, você deverá ser uma autoridade no assunto. Esse estudo poderá consumir dias, semanas e até meses. Não importa quanto tempo seja necessário, o importante é que você esteja muito bem preparado.
Depois de ter pesquisado o próprio material, faça um questionário amplo, com todas as perguntas que julgar importantes, pois agora você estará em condições de partir para a segunda etapa da pesquisa – consultar os especialistas.

Fale com outros especialistas

Mesmo que você conheça muito o assunto, não seja orgulhoso, julgando que irá se diminuir ao conversar com outros especialistas na matéria. Ao contrário, esses contatos geralmente são muito produtivos e podem iniciar uma parceria que às vezes dura a vida toda.
Como você já estudou e se aprofundou no assunto, não correrá o risco de levantar questões primárias ou irrelevantes. Aproveite esses contatos para se aprofundar ainda mais no tema, esclarecer pontos que ficaram nebulosos e principalmente ouvir outras opiniões sobre os aspectos mais controvertidos da matéria.

É o momento para pedir indicações de material bibliográfico, de outras fontes de pesquisa, de outros profissionais que se interessam pelo tema e das palestras mais importantes a respeito do assunto.
Atenção: a tendência natural é criticar, mesmo que em silêncio e para você próprio, a postura e as ideias dos outros profissionais. Cuidado, não feche a mente para as opiniões diferentes, analise as posições contrárias sem preconceito e com a cabeça arejada. Como palestrante, você deverá estar preparado para enfrentar pessoas com posicionamentos distintos, mas que também sustentam suas teses com argumentos sólidos. Com o amadurecimento, aprendendo e se aprofundando mais no tema que elegeu para sua palestra, verá que as certezas de hoje talvez amanhã possam aceitar algumas modificações. Por isso, mente aberta, desbloqueada e sem preconceito nos contatos com outros especialistas só trará benefícios para seu futuro como palestrante.

E, já que estamos falando em mente aberta, aprenda desde cedo a não criticar outros profissionais que tratam do mesmo tema que você. É comum surgir rivalidades entre especialistas da mesma área. Essas críticas demonstram insegurança, despreparo e em alguns casos até inveja. Se não puder elogiar, também não critique.

Agora, vá às bibliotecas e mergulhe na Internet

Você já fez uma belíssima revisão em todo o material utilizado quando aprendeu sobre o assunto, consultou outros especialistas, fez anotações com sugestões de livros, revistas, jornais, filmes e outras fontes de pesquisa. Agora se prepare para mergulhar um bom tempo, e sem pressa, nas bibliotecas e na Internet.

Procure ir à biblioteca com a relação dos livros que pretende pesquisar. Assim, ganhará tempo e terá condições de empreender uma busca mais produtiva. Depois de ter levantado todas as informações que havia programado, poderá fazer outras pesquisas complementares.

Atenção – não confie na memória imaginando que depois se lembrará onde encontrou determinada informação. No momento da leitura, poderá parecer impossível esquecer que aquele dado tão precioso estava naquela obra, mas depois de pesquisar em outro livro, e mais outro, já não saberá qual foi o primeiro, muito menos em que página, e às vezes nem mesmo se foi naquela biblioteca ou em outra. Por isso, anote o título da obra, o nome completo do autor, quem fez a tradução, a edição, a editora, o local da publicação, a data e a página. Documente-se, pois, no futuro, se tiver de justificar um ponto de vista, preparar um visual ou escrever sobre o tema, já que será um especialista na matéria, terá facilidade em identificar a fonte da informação.

Se julgar que determinado livro é muito importante para seu tema, não hesite em comprá-lo para tornar cada vez melhor sua biblioteca.
Embora esteja à mão e dentro da própria casa, você já deve saber que, para pesquisar pela Internet, deverá ter muito tempo e muita paciência. Primeiro, porque nem todas as informações são confiáveis e por isso precisam ser checadas e confirmadas. Depois, porque alguns sites de busca funcionam para determinados assuntos como espécie de lixão – todas as besteiras possíveis e imagináveis são jogadas ali. Assim, com calma e muita perseverança, você precisará selecionar os sites e separar em cada um deles as informações efetivamente relevantes. Esse trabalho, de maneira geral, consome muito tempo e exige muita dedicação.

Não se apresse

Essa fase de pesquisa e de aprendizado não terminará nunca – a vida inteira você deverá se dedicar a conhecer cada vez mais e com maior profundidade o assunto. Entretanto, mais da metade do conteúdo de sua palestra surgirá do trabalho de pesquisa que você realizar nessa etapa inicial. No futuro, acrescentará um dado aqui, uma história diferente ali, mas a base será sempre essa que irá montar agora. Por isso, não tenha pressa e construa sua palestra em bases sólidas, para que possa sempre se sentir preparado e seguro para fazer suas exposições.
A falta de informações, ou a inconsistência de material para a palestra, poderá torná-lo inseguro e hesitante e fazer com que se sinta desconfortável para falar em público. Evite esse risco preparando-se da melhor maneira que puder. Saiba sempre muito mais sobre o assunto do que precisará dizer. Tome como medida geral o dobro. Assim, se tiver intenção de falar durante uma hora, prepare-se com material suficiente para se apresentar por pelo menos duas horas. Se pretender falar durante duas horas, prepare-se para quatro. Esse conhecimento adicional dará a segurança de que você precisa e de alguma forma será percebido pelos ouvintes, que o respeitarão ainda mais.

Comece a verbalizar

Lembre-se sempre de que uma coisa é pensar sobre um assunto, outra é escrever e outra muito mais diferente ainda é falar sobre ele. Algumas pessoas são brilhantes em sua maneira de pensar e conseguem até escrever de forma admirável, mas na hora de falar encontram muita dificuldade e não transmitem o conhecimento e o preparo que possuem.
Por isso, comece a conversar sobre o assunto com todas as pessoas que possam se interessar. Qualquer vítima serve – pessoas da família, amigos, colegas de trabalho, até companheiros de viagem que acabou de conhecer em ônibus ou aviões. As conversas sobre o conteúdo da palestra que pretende fazer, além de tornarem as ideias mais claras, pelo fato de verbalizar as informações, já poderá verificar também que tipo de interesse as pessoas demonstram pelo tema. Se perceber que o ouvinte se mostra indiferente, isso não significa, ainda, que o assunto não seja interessante. Pode ser que aquela pessoa especificamente não seja atraída por esse tipo de informação, ou ainda que a maneira como você está transmitindo a mensagem não seja a mais apropriada. Assim, vá conversando sobre o assunto com pessoas diferentes, mudando a forma de transmitir as informações, observando como os ouvintes reagem e aprendendo a verbalizar os pensamentos com maior desenvoltura.
Estou sugerindo a você conversar sobre o assunto antes de ordenar definitivamente as informações, e insisto que proceda exatamente dessa maneira, porque será muito melhor escrever seguindo o estilo que usou nas conversas do que conversar a partir do estilo que usou para escrever. O primeiro o tornará natural e espontâneo, enquanto o último poderá produzir uma comunicação artificial e afetada.

Estruture sua palestra

Divida sua palestra em quatro partes:

1. introdução
2. preparação
3. assunto central
4. conclusão

Introdução – A introdução irá variar de palestra para palestra, de acordo com as características dos ouvintes e as circunstâncias da apresentação. Seu objetivo é conquistar a plateia. Procure surpreender os ouvintes com informações que possam criar maior expectativa e aumentar ainda mais o interesse pela palestra. Quanto mais inusitada for a introdução, desde que não ponha em risco o resultado da exposição, evidentemente, mais as pessoas desejarão ouvir a palestra completa. Sugiro que prepare sempre com antecedência o que pretende dizer na introdução, mas chegue ao local da apresentação atento para as circunstâncias e os acontecimentos que surjam no ambiente. Se perceber que alguma informação nova, nascida no próprio local onde irá se apresentar, poderia substituir o que havia preparado, faça a substituição, pois assim estará tornando a mensagem mais apropriada ao evento e dando atualidade a sua exposição.
Cumprimente os ouvintes de maneira simpática, como se estivesse se encontrando com um grupo de amigos. De maneira geral, você poderia usar algumas dessas sugestões para iniciar a palestra:

Fale de sua satisfação em estar ali tratando daquele assunto;

Elogie honestamente e com muita sinceridade a plateia;

Fale de alguns benefícios que as pessoas terão com as informações que irá transmitir;

Fale sobre alguns aspectos da mensagem que possam provocar impacto;

Aproveite algum fato do ambiente, exagere e o transforme em um acontecimento bem-humorado;

Conte uma pequena história muito interessante;

Faça referências a pessoas que estejam presentes, que você conheça e que tenham representatividade no grupo;

Levante uma reflexão que motive os ouvintes a procurarem resposta e a se envolverem com a mensagem.

Entretanto, evite contar piadas, pedir desculpas por problemas físicos ou pela falta de conhecimento sobre o assunto, tomar partido logo no início se o assunto for polêmico.

Preparação – O objetivo da preparação é facilitar o entendimento da plateia, deixando-a em condições de receber a mensagem.
Nessa etapa, em que procurará facilitar o entendimento das pessoas, use a seguinte ordem:

Conte em uma ou duas frases qual é o assunto que irá desenvolver. Assim, os ouvintes saberão qual a mensagem que ouvirão e onde você pretende chegar com as informações, e assim poderão acompanhar seu raciocínio com mais facilidade;

Esclareça qual o problema que deseja solucionar ou faça um histórico do assunto que é a novidade que pretende apresentar. Lembre-se: tudo o que é novo deve ter tido um passado e toda solução é para resolver um problema. Por isso, na preparação, fale do passado ou conte qual é o problema;

Diga quais são as três ou quatro etapas que pretende cumprir no assunto central. Por exemplo, se pretende falar sobre imprensa, poderia dividir esse assunto em três partes e revelá-las na preparação, dizendo que irá falar sobre imprensa escrita, imprensa falada e imprensa televisionada.

Se julgar que alguns desses itens da preparação podem ser suprimidos, fique à vontade para eliminá-los. Assim, não precisará contar qual é o assunto se tiver certeza de que todos já possuem essa informação, nem contar qual é o problema se, da mesma maneira, todos estiverem informados sobre ele, e também não precisará dizer quais as etapas que pretende cumprir se a clareza do raciocínio na exposição da mensagem permitir que os ouvintes a entendam sem a divisão.

Assunto central – Aqui estará sua palestra. Esse é o momento de falar sobre tudo o que preparou durante a fase de pesquisa do assunto. Organize as informações fazendo divisões no tempo, no espaço, estabelecendo comparações, comentando as consequências econômicas, sociais e políticas. Para sustentar suas informações, use argumentos como exemplos, comparações, estatísticas, pesquisas, estudos técnicos, científicos, teses, testemunhos. Se perceber que os ouvintes não concordaram com algumas de suas informações, prepare uma boa defesa para que suas ideias possam prevalecer.

Conclusão – Esse é o momento de pedir aos ouvintes que reflitam ou ajam de acordo com a finalidade da mensagem. Reserve para o fim o momento maior de emoção para tocar o sentimento dos ouvintes. Procure agir assim mesmo que a apresentação seja um pouco mais técnica.

Dicas finais e muito preciosas
Associe sua mensagem com informações que a platéia deseja ouvir. Procure fazer essa associação com tanta naturalidade que pareça tratar-se sempre de um único assunto.

Conte histórias interessantes durante toda a apresentação. As histórias cativam e tornam a exposição leve e atraente.

Fale com emoção, seja arrojado, ousado. Alterne a velocidade da fala e o volume da voz. Use bem a expressão corporal, especialmente a comunicação do semblante. Brinque com os ouvintes. Cante, dance, faça imitações, enfim, use tudo o que souber fazer bem;

Prepare alguns visuais que ajudem a esclarecer o assunto, quebrar a monotonia e tornar os ouvintes mais interessados;

Respeite a inteligência dos ouvintes. Por isso, conte histórias e use o humor de acordo com o nível das pessoas;

Se tiver algum tropeço no início, não desanime, é normal. Use-o para fortalecer ainda mais sua experiência;

Pratique, pratique e pratique.

Boa sorte e muito sucesso.

Reinaldo Polito

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