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28 mar 2024

Você sabe ler?

por Reinaldo Polito

É só aparecer alguém com um bloco de papel na mão para que a platéia comece a se entediar. Não! Dê uma olhada no calhamaço que ele está trazendo para leitura. Do ”Senhoras e Senhores” até o “Muito Obrigado” vai ser uma longa viagem. De maneira geral, a leitura é vista como uma das atividades mais chatas da comunicação, perdendo apenas para a fala decorada.
As pessoas não sabem ler em público por dois motivos essenciais: Primeiro, porque tiveram poucas oportunidades de praticar essa atividade. Quando pergunto em sala de aula quantas pessoas durante a vida toda leram mais de três vezes diante de um grupo, menos de cinco se manifestam. Depois, porque além de, normalmente, não existir a experiência da leitura em público, quando as pessoas lêem apresentam-se sem nenhum critério técnico. Portanto, para aprender a ler bem em público é preciso seguir algumas regrinhas muito simples e praticar bastante.

Um conselho – não deixe para se aprimorar na leitura em público apenas quando tiver necessidade, pois, dependendo da circunstância, talvez não haja tempo suficiente para você se preparar de forma conveniente.

Olhe para os ouvintes — algumas pessoas se esquecem de que a mensagem deve ser transmitida para os ouvintes e permanecem o tempo todo olhando para o texto, como se estivessem conversando com o papel. Durante as pausas prolongadas e nos finais de frases, olhe para os ouvintes e demonstre com essa atitude que as informações estão sendo transmitidas para eles. Cuidado também para não olhar sempre para as mesmas pessoas.
Distribua a comunicação visual olhando ora para um lado, ora para outro. Assim, todos se sentirão incluídos no ambiente. Para não se perder na leitura enquanto olha para os ouvintes, aqui vai uma boa dica: Marque a linha de leitura com o dedo polegar, pois ao voltar para o texto saberá exatamente onde parou.

Segure o papel na altura correta — se você deixar o papel muito baixo, terá dificuldade para enxergar o texto. Se, entretanto, deixar muito alto, esconderá seu semblante da platéia. Por isso, procure deixar a folha na parte superior do peito, para ler com mais facilidade e não se esconder do público. Considere também que, se o papel estiver muito baixo, você terá que abaixar muito a cabeça para ler e levará muito tempo para retornar, olhar e ver as pessoas.
Deixando a folha na parte superior do peito, bastará tirar os olhos do texto e já estará mantendo a comunicação visual com os ouvintes. Falando em não abaixar a cabeça, ao digitar o texto procure usar apenas os dois terços superiores da página, deixando o terço inferior em branco. Esse cuidado permitirá um contato visual mais tranqüilo e suave, já que para ver as pessoas bastará apenas levantar os olhos, sem movimentar muito a cabeça.

Faça poucos gestos — a gesticulação na leitura deverá ser moderada. A não ser que a mensagem exija maior quantidade de movimentos, a leitura de uma página, de maneira geral, pode ser feita com meia dúzia de gestos. É preferível fazer poucos gestos, que destaquem as informações mais relevantes com convicção e firmeza, do que demonstrar hesitação soltando repetidamente a mão do papel e retornando depressa, como se estivesse arrependido. Se você for muito inexperiente e encontrar dificuldade para gesticular, será melhor que não gesticule. Fique o tempo todo segurando a folha com as duas mãos.

Marque o texto — faça pequenas marcações no texto para facilitar a interpretação da mensagem. Use, por exemplo, traços verticais antes das palavras para indicar o momento de fazer pausas mais expressivas, e traços horizontais embaixo das palavras que mereçam maior destaque.v Observe que essas marcações não coincidirão necessariamente com a pontuação gramatical.

Segredinhos que ajudam muito:

  Para facilitar a identificação de cifras misture números com palavras. Por exemplo, fica mais fácil ler 25 milhões, do que 25.000.000, ou vinte e cinco milhões.

  Termine sempre a página com ponto final. Evite deixar frases incompletas no final da página para não ter que se apressar em procurar o complemento da informação na página seguinte.

  Numere as folhas com números bem visíveis e para facilitar o manuseio deixe-as soltas, sem clipes ou grampos.

  Use um corpo de letra de acordo com sua capacidade de enxergar, mesmo que para isso seja obrigado a usar muitas folhas. A tipologia minúscula de letras possui desenhos mais fáceis de ler do que a maiúscula. Por isso, a regra é usar corpo de letra grande com tipologia minúscula.

E a tremedeira? — se costuma sentir tremores nas mãos, a saída é usar folhas de gramatura mais encorpada. Somente pelo fato de saber que com as folhas mais grossas os pequenos tremores não serão percebidos, você irá se comportar com mais tranqüilidade e, provavelmente, não tremerá.

Treine bastante — selecione textos de jornais ou de revistas, faça marcações para ajudar na interpretação e treine com auxílio de uma câmera de vídeo – na falta deste equipamento faça os exercícios na frente de um espelho. Dê atenção especial às pausas expressivas, à comunicação visual e aos gestos. Um texto para ser bem lido e interpretado necessita de pelo menos trinta ensaios, pois somente aí é que conseguirá soltar-se do papel com tranqüilidade e se comunicar de forma eficiente com os ouvintes. Cuidado, entretanto, para não ensaiar muito a ponto de decorar a mensagem e se esquecer de olhar para o papel. Se este fato ocorrer, pelo menos finja que está lendo.

Quando ler — a leitura deverá ser reservada para momentos especiais como:

  Pronunciamentos oficiais.

  Textos muito técnicos que não possam conter erros.

  Discursos de posse de presidentes de entidades, pois esse é o momento em que apresentará as bases da sua administração e não deveria, portanto, improvisar.

  Agradecimentos de homenagens feitas a grupos, especialmente quando a mensagem representar a filosofia das pessoas, ou tiver de ser distribuído para a imprensa.

  Discursos de oradores de turma, em que a mensagem deve representar a vontade de todos os formandos.

  Além dessas situações e de uma ou outra que poderia ser acrescentada, a leitura deveria ser substituída por outros recursos, que tratarei nesta coluna nas próximas semanas.

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