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27 abr 2024

Fale como um profissional de sucesso -
até em sala de aula

por Reinaldo Polito

Terça-feira é dia de fazer apresentação oral de um trabalho na pós-graduação. Já é sábado à tarde, você tem quase dois dias para se preparar e, se não for suficiente, poderá ainda sacrificar a madrugada da segunda-feira. Vai chegar meio baleado diante da classe na terça, mas tudo bem, o que importa é fazer uma boa apresentação.
Esse quadro hipotético não deve ter passado muito longe de algumas situações que você vivenciou. Se fosse para entregar o trabalho digitado e encapado até que não haveria maiores problemas, mas fazer a exposição oral já são outros quinhentos, e, na hora H, bate a insegurança e o medo de passar carão na frente dos colegas. Às vezes o trabalho até que sai bem-feito, mas, se puder terceirizar a apresentação, você prefere ficar sentado e torcer para o colega do grupo.
Fazer apresentações de trabalhos na faculdade, nos cursos de pós-graduação, ou de especialização não é bicho de sete cabeças, basta seguir alguns passos básicos.

Quem era rico estudava, quem era pobre trabalhava
Veja que virada: há algum tempo o jovem só tinha dois caminhos – ou trabalhava ou estudava. Se fosse de família remediada para cima, preparava-se para uma das três carreiras mais desejadas pelos pais: direito, medicina ou engenharia. Se fosse mulher e precisasse trabalhar mais cedo, faria o curso normal e seria professora primária.Se não precisasse, faria letras ou filosofia para lecionar nos cursos clássico, científico e no próprio normal.
O equivalente ao curso normal para o homem, já que poucos se tornavam professores primários, era o técnico em contabilidade. Os que eram mais bem preparados arrumavam um dos empregos mais cobiçados e se transformavam no genro que toda sogra desejava ter, passavam no concurso do Banco do Brasil e garantiam de vez um futuro tranqüilo, seguro e sem sobressaltos. Ah, a mulher que não pudesse seguir a carreira universitária, também poderia fazer o curso de secretariado e, se fosse boa estenógrafa, também tinha colocação garantida. Saber outra língua era privilégio de poucos, e, para ser secretária, este não era requisito indispensável.
Nas décadas de 40 a 60 quem se formasse como secretária ou contador na Álvares Penteado já saía da escola empregado. Havia mais emprego para essas funções do que mão-de-obra disponível.
Além desses empregos, podemos relacionar um ou outro que eram muito procurados, mas dificilmente conquistados, como aeromoça, militar e demais funções na área governamental. Sem contar que pouquíssimas mulheres trabalhavam. Por isso a maioria fazia o curso de esposa e ia aprender corte e costura e culinária. E pensar que não faz tanto tempo assim!

Surgiram os cursos noturnos
De lá para cá o cenário foi se transformando. Num primeiro estágio surgiram os cursos noturnos. Se você for muito jovem – e deve ser, pela faixa etária dos leitores da Vencer!-, estará surpreso com essa informação, mas era assim mesmo, praticamente não havia cursos noturnos, era quase tudo durante o dia. Por isso ou se estudava ou se trabalhava. Com o aparecimento dos cursos noturnos, aqueles que precisavam trabalhar, se tivessem força de vontade e ambição, poderiam continuar trabalhando durante o dia e estudar à noite. Mas tinha de ser muito determinado, porque as pessoas não estavam acostumadas a se dedicar a atividades noturnas. O tempo foi passando, os cursos noturnos foram ampliados e quase todas as faculdades puderam ser freqüentadas à noite. No início, com qualidade contestável, pois supunha-se que quem trabalhasse durante o dia e estudasse à noite provavelmente não teria condições de se dedicar muito a leituras e tarefas extraclasse, entre outros motivos, por simples cansaço e falta de tempo. Mais à frente descobriu-se que as matérias nos cursos noturnos podiam ser ministradas normalmente, pois era possível estudar durante algumas horas de madrugada, nos fins de semana e feriados. E não tinha essa história de mas, porque de nada adiantaria concluir uma faculdade só por concluir e não aprender o que era preciso para enfrentar o mercado de trabalho.
Assim, as escolas foram se dividindo: de um lado, aquelas que exigiam muito dos alunos e os preparavam para exercer funções dentro das carreiras que haviam abraçado e, de outro, aquelas que foram despejando formandos despreparados com diplomas que só serviam para preencher currículos que não passavam da primeira triagem. Alguns alunos, entretanto, independentemente da qualidade da escola que freqüentaram, conseguiram aprender e se projetaram como bons profissionais.

Hoje é necessário trabalhar e estudar
O que era uma chance para aqueles que trabalhavam e não podiam estudar hoje se transformou em obrigação para todos. Com a necessidade do constante aprimoramento, não se concebem mais pessoas que se limitem apenas a trabalhar. As próprias empresas investem no aprendizado de seus empregados e chegam a estabelecer um número anual mínimo de horas para cursos, seminários, palestras e workshops. E não há como escapar – ou a empresa financia esse aperfeiçoamento ou o profissional põe a mão no bolso e paga seus cursos.
Por isso é comum encontrarmos cursos de pós-graduação de todas as áreas e cada vez mais programas de especialização, MBA, mestrado, línguas e tudo que se possa imaginar. Ou o profissional se atualiza e continua no jogo ou se acomoda e corre o risco de ir para o chuveiro mais cedo, de uma hora para outra.
Mas por que fiz esse histórico todo sobre só trabalhar ou estudar, trabalhar e poder estudar e trabalhar e ter de estudar? Para mostrar a necessidade de hoje a pessoa estar sempre em um banco escolar e que há uma tendência generalizada dos profissionais de todas as atividades freqüentarem cursos.
Aí é que entra a comunicação, pois, se você participa de cursos– e, pelo que vimos, se estiver interessado em crescer profissionalmente, estará inscrito em algum programa de aperfeiçoamento, freqüentando aulas à noite ou mesmo durante o dia-, precisa se expor para ter um bom aproveitamento. E atenção: com a obrigação de fazer exposições orais de trabalhos, monografias, dissertações, teses, além de discussões em grupo com os colegas de sala.
Essas apresentações orais são muito importantes não apenas para o aproveitamento das matérias cursadas, mas também, às vezes, principalmente para projetar imagem pessoal de maneira positiva diante de pessoas que, não raro, atuam na mesma atividade profissional e que, por isso, fazem avaliações que poderão ter conseqüências para a carreira de quem se apresenta. Além, evidentemente, de possibilitar o aprendizado e maior desenvoltura na comunicação.
Por isso, a partir de agora, você conhecerá as dicas mais importantes para apresentar com sucesso os trabalhos nos cursos que freqüenta.

A escolha do tema
O primeiro passo para garantir o sucesso da apresentação é escolher corretamente o tema que irá abordar.
O tema poderá ser determinado pelo professor, sem possibilidade de escolha; poderá ser escolhido a partir de uma relação sugerida pelo professor; e poderá ainda ser de livre escolha, dentro da matéria ministrada. Em qualquer situação é importante que o tema seja bem identificado para que se saiba quais os objetivos a atingir e de que maneira deverá ser organizado.
Se existir a liberdade de escolha, selecione um tema sobre o qual tenha algum tipo de conhecimento e interesse em pesquisar. Além do interesse, verifique também se existem condições para a pesquisa, pois de nada adiantaria possuir algumas informações sobre o assunto e interesse para pesquisar o tema se a matéria não estivesse disponível em bibliotecas, livrarias, arquivos ou na internet.
Dê preferência a temas relacionados a sua atividade profissional ou a assuntos com os quais, por qualquer motivo, você tenha alguma ligação, como hobbies ou artigos que colecione. Assim, atenderá simultaneamente aos dois requisitos, isto é, conhecimento e interesse.
Leve em conta também a atualidade do assunto. Uma apresentação deve provocar interesse e tocar a emoção dos ouvintes, que, no caso de trabalhos em programas de aperfeiçoamento, são os colegas de classe e o professor, e se for uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado, acrescentem-se à platéia os membros da banca julgadora – três para o mestrado e cinco para o doutorado, mais os convidados, por serem essas exposições abertas ao público. Por isso, ou o tema, por si, provocará esse interesse, ou você o ligará a algum assunto que cumpra esse papel. E as matérias mais recentes, de maneira geral, são as mais interessantes.
Se o tema for determinado pelo professor ou escolhido a partir de uma relação sugerida, a liberdade praticamente desaparecerá no primeiro caso e se restringirá no segundo. Nessa circunstância, a melhor saída é a de aproximar o assunto, por semelhanças, contrastes ou comparações, com as matérias que você tenha mais domínio. Por exemplo, se o tema fosse transportes e você tivesse muita experiência em viagens, poderia falar das semelhanças e das diferenças dos transportes que utilizou nos diversos países que visitou.

Encontre um tema de apoio ou faça análise das informações
É sempre muito mais difícil apresentar oralmente um tema tratando apenas dele, especificamente. O fato se agrava quando a fonte de consulta é apenas uma, como, por exemplo, um capítulo de um livro, ou mesmo o próprio livro.
Por isso, procure, sempre que puder, desenvolver o assunto com o apoio de um outro que possa facilitar a organização do raciocínio e a seqüência da exposição. Se, por exemplo, o professor determinasse que o seu tema tratasse de planos econômicos, sua apresentação poderia usar como apoio o plano de governo dos diversos presidentes do Brasil, de 1986 até agora. Você teria mais argumentos, sua exposição seria interessante por se apoiar em dados históricos e políticos que se movimentaram ao longo do tempo, e as informações seriam organizadas em seqüência lógica, de estrutura simples, pois diversos planos poderiam ser analisados a partir da política de um mesmo governo.
Para usar a técnica da análise das informações, você não precisa suprimir o recurso que acabamos de analisar, pois os dois podem ser utilizados simultaneamente. A análise das informações permite que você estabeleça um fio condutor que guiará todos os passos da exposição.
Vamos imaginar que o professor tenha determinado que você apresentasse o tema Mitos da globalização, escrito por Paulo Nogueira Batista Jr. Nesse texto, o autor relaciona cinco argumentos utilizados em favor da globalização, e que ele contesta, procurando provar que são posições falsas, que não passam do que chamou de mitos da globalização. Você poderia expor esse assunto fazendo uma análise das técnicas utilizadas pelo autor (que tentou provar a tese de que os argumentos dos defensores da teoria da globalização são fantasiosos): Ele apenas negou os argumentos contrários? Defendeu sua posição com estatísticas, estudos técnicos, dados históricos ou pesquisas? Iniciou as objeções contestando os argumentos mais fortes e deixou os mais frágeis para o final? Ou agiu de maneira diversa?
Observe que, com análises dessa natureza, o assunto ampliará as possibilidades de exposição com ótimas chances de sucesso.

Selecione técnicas que o auxiliem a desenvolver o tema
Algumas técnicas simples podem se constituir em excelentes auxiliares para o desenvolvimento do tema. O tema do seu trabalho poderá ser organizado com o auxílio de técnicas como ordenação no tempo, ordenação no espaço e soluções de problemas.
Essas técnicas poderão ser utilizadas isoladamente ou de forma simultânea, dependendo das informações disponíveis, característica do tema e interesse dos ouvintes.

Ordenação no tempo
De maneira geral, todos os temas, independentemente da matéria cursada, poderão ser expostos com auxílio da técnica da ordenação no tempo.
Este método, como é fácil deduzir, mostra como as informações se apresentaram no passado, como se manifestam no presente e como se comportarão no futuro. É um método que produz grande interesse nos ouvintes, pela maneira como expõe gradativamente a revelação das novidades. Cria expectativas na platéia (ao longo da apresentação), que ficará curiosa para saber o que ocorreu e como os fatos se sucederão. Ao mencionar o fato ocorrido em um determinado tempo, procure analisá-lo dentro das circunstâncias da época mencionada. Esse recurso dará mais substância ao assunto e o tornará mais interessante. Só tome cuidado para não exagerar nos detalhes, para evitar que o ritmo da apresentação seja truncado.

Ordenação no espaço
O recurso da ordenação no espaço é muito útil porque, além de permitir a divisão do assunto, possibilita também o aproveitamento das circunstâncias que cercam o local mencionado, como, por exemplo, práticas religiosas, costumes sociais, atividades políticas, etc. Esse mesmo aproveitamento das circunstâncias também poderá ser usado na técnica da ordenação no espaço, analisada há pouco.
Normalmente, com a ordenação no espaço, se estabelecem comparações entre os diversos locais mencionados, tornando, assim, a exposição mais dinâmica. Se, por exemplo, o seu tema fosse poluição, seria muito simples abordá-lo mostrando como essa questão é tratada pelos americanos, pelos europeus, pelos asiáticos e pelos brasileiros.
Acrescentando-se a essa divisão comentários como legislação, cidadania, controle e atuação da imprensa, seus 30 minutos de exposição já estariam esgotados, de maneira interessante e com sucesso.

Soluções de problemas
Você já observou como a maioria dos temas se constitui em soluções de problemas? Para planejar uma boa apresentação, você poderá identificar quais os problemas que seriam solucionados com a abordagem dada ao assunto e comentar em seguida as conseqüências dessa solução. Fique atento e analise bem todos os ângulos do seu tema, pois o que hoje pode parecer muito óbvio talvez em outra época tenha se constituído em um grave problema. Assim, ao relatar o problema existente em ocasiões passadas, poderá facilitar o entendimento da questão atual, além de, simultaneamente, utilizar a divisão no tempo, fato que, provavelmente, criaria maior interesse nos ouvintes.

Como treinar sua apresentação
Lembre-se de que pensar sobre um assunto é uma coisa, escrever sobre ele é outra e apresentá-lo oralmente é outra muito diferente. Portanto, treine o que vai expor falando em voz alta.
Cuidado para não tentar reproduzir palavra por palavra o que escreveu, pois essa atitude poderia deixá-lo inseguro e artificial.
Se desejar expor o assunto da maneira como o escreveu, fale primeiro e procure escrever da maneira como falou, assim sua apresentação será mais natural. O melhor, entretanto, é discutir o tema com os colegas do seu grupo, explicando parte por parte o que pretende apresentar. Quando tiver que falar diante da classe, estará familiarizado com as informações e com a maneira de expor a matéria.

Rápidas dicas de como expor oralmente seu trabalho escolar
– Fale com volume de voz suficiente para que todos ouçam, principalmente quem estiver no fundo da sala.
– Não fale muito rápido, nem devagar.
– Alterne o volume da voz e a velocidade da fala para que o ritmo seja interessante.
– Fique posicionado de maneira elegante, distribuindo naturalmente o peso do corpo sobre as duas pernas.
\   – Não fique parado na frente da classe, mas também não se movimente se não tiver motivo.
– Evite ficar com os braços nas costas ou cruzados na frente do corpo. Também não é conveniente ficar com as mãos nos bolsos, nem esfregá-las nervosamente. Mesmo que você não esteja à vontade, não revele essa insegurança aos ouvintes.
– Mantenha o semblante arejado e simpático e olhe para todos os colegas da sala.
– Fale com a maior naturalidade possível, como se estivesse conversando de maneira animada com os amigos. Como, provavelmente, todos os colegas estão familiarizados com sua maneira espontânea de se comportar, qualquer atitude artificial seria facilmente percebida, e o resultado da sua exposição poderia ser prejudicado. Fale sempre com entusiasmo.
– Elimine sons e ruídos desnecessários, como né? tá? humm, ãããã.
– Faça uma rápida introdução comentando a importância do tema que irá expor.
– Conclua sua apresentação com uma reflexão sobre o tema, ou falando da sua satisfação em ter pesquisado sobre o assunto, ou ainda incentivando os ouvintes a se aprofundarem mais nesta matéria que julga tão importante.
– Use anotações e consulte-as sem receio, mas não se escravize a elas.
– Se usar recursos visuais, como powerpoint ou retroprojetor, ensaie bastante, para ter certeza de que seguirá a seqüência correta, e chegue mais cedo para se certificar de que os aparelhos estão funcionando da maneira desejada.

Siga essas orientações, tire um belíssimo dez e receba os cumprimentos dos colegas e do professor. Boa sorte!

Bibliografia sobre esse tema
Os meus livros que orientam sobre esse assunto são:
Como falar corretamente e sem inibições, Assim é que se fala, Como se tornar um bom orador e Recursos audiovisuais nas apresentações de sucesso, todos publicados pela Saraiva.

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