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04 mar 2018

Lágrimas presidenciais

Reinaldo Polito

Lula chorou. De novo.

Ao participar do jantar que abriu o encontro do Diretório Nacional do PT, na cidade de Salvador, o presidente Lula, mais uma vez, derramou lágrimas em público.

Como normalmente ocorre em suas apresentações, o presidente discursava com veemência tentando persuadir os companheiros de partido a procurarem os inimigos nas trincheiras adversárias, e não dentro da própria agremiação, como tem ocorrido com freqüência nos últimos tempos, numa verdadeira troca de fogo amigo.

Em determinado instante, quando fez referência aos momentos maravilhosos vividos no PT, e sobre as dificuldades que precisou enfrentar quando foi obrigado a disputar o segundo turno das eleições presidenciais em 2006, Lula ficou emocionado e chorou.

Essa não é a primeira vez em que o presidente chora em público e, provavelmente, não será a última, pois, ao que parece, Lula fez do choro mais um recurso para conquistar a simpatia da população. Quando falo “fez do choro” não estou insinuando que se trata de um teatro, semelhante ao artista que derrama as lágrimas de acordo com as conveniências do papel que desenvolve. Não, o presidente apenas não se incomoda de que o vejam chorando em público. Literalmente, deixa rolar.

As lágrimas de Lula já regaram as mais diferentes regiões do país. A primeira vez como presidente foi no momento em que soube que havia vencido as eleições; a seguinte ao ser diplomado; outras duas ocorreram no mesmo dia 26 de janeiro de 2003, uma ao ouvir o garoto de 6 anos Luan Conceição cantar uma música típica do Rio Grande do Sul, e pouco mais tarde quando ouviu um jovem contando a própria história como menino de rua.

Bem, o que não falta é exemplo de situações onde o presidente Lula chorou. Só como curiosidade coloquei a expressão “Lula chorou” num site de busca e o resultado mostrou mais de mil ocorrências.

Em todas essas circunstâncias, o choro não prejudicou a imagem do presidente, pois foi interpretado como demonstração de sentimento verdadeiro e se transformou até em excelente meio para conquistar a empatia de muitos brasileiros.

Nem sempre, entretanto, o choro é visto com tanta naturalidade. Imagine um executivo apresentando um projeto diante do conselho da empresa e se desmanchando em lágrimas. Provavelmente, essa demonstração de ter sido dominado pela emoção, nessa circunstância, seria desastrosa.

Infelizmente ainda há uma sombra cultural machista imbecil que permeia a nossa sociedade, mesmo que estejamos em pleno século 21. A velha frase que pressionou gerações recentes —”homem não chora”— continua produzindo eco nos dias de hoje.

Como as mulheres disputam os mesmos espaços que os homens, e, não raro, com muito mais competência, de certa maneira também foram apanhadas pela mesma advertência. Como a conquista profissional da mulher é mais ou menos recente, a maioria faz um enorme esforço para não chorar em público e, portanto, não se mostrar vulnerável, já que o choro poderia ser visto como uma demonstração desfavorável dessa fragilidade. Assim, embora a frase seja “homem não chora”, para a nossa reflexão, as mulheres também vão participar da roda.

Por outro lado, há situações em que o choro pode ser bem recebido. Alguém chorar ao receber um prêmio ou uma homenagem poderia ser visto com simpatia. Como você pode observar, cada caso deve ser analisado dentro das suas próprias circunstâncias.

Como nem sempre é conveniente chorar em público, é prudente saber como esse comportamento pode ser evitado.

Alguns assuntos nos emocionam e podem nos fazer chorar. Os mais comuns são aqueles que falam de nossos familiares e amigos, especialmente daqueles que já faleceram. Para essas situações temos duas saídas. A primeira é treinar várias vezes a apresentação da mensagem. Você irá chorar na primeira vez em que falar no nome deles, e irá se tranqüilizando cada vez mais à medida que for repetindo a informação.

Quando chegar o momento de se apresentar diante do público, talvez volte a se emocionar e até chore, mas não com a intensidade como se comportou no ensaio ao proferir as palavras pelas primeiras vezes.

Se depois de todas as repetições, ainda assim sentir que não irá resistir e que será dominado pela emoção diante da platéia, simplesmente evite a informação e não toque no nome dessas pessoas.

Tenho observado também que o choro funciona em determinadas circunstâncias como espécie de fuga. A pessoa começa a se sentir fragilizada, incompetente para continuar transmitindo a mensagem de maneira segura, e, sem ter a quem ou ao que recorrer, chora.

Se você for surpreendido pelo choro, procure se recuperar fazendo pausas prolongadas. Depois da pausa, volte a falar mais baixo e, se sentir que o choro ainda está por perto, faça mais uma pausa. Quando perceber que está conseguindo dominar a apresentação, fale mais alto, até para desenroscar a voz que ficou embargada.

Alguns goles de água logo nas primeiras pausas proporcionam bons resultados, pois você terá mais tempo de recuperação e, ao beber água, estará desenvolvendo outra atividade e desviando a concentração das suas preocupações.

É provável que o presidente Lula continue chorando. Se, entretanto, resolver mudar a atitude, poderia começar pelas sugestões que acabei de passar. É a minha contribuição para o segundo mandato.

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