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26 abr 2024

Abra as cortinas e comece o espetáculo

por Reinaldo Polito

Você pede – Atenção, e… nada; depois suplica – por favor, um minutinho de atenção.

Agora sim, algumas pálpebras pesadas se movimentam e aqueles olhos de peixe morto perdem um pouco do brilho vitrificado e passam a olhar na sua direção. Mas é só um minutinho mesmo, porque em seguida tudo volta como dantes no quartel general do Abrantes. E quartel noturno, onde todos dormem e só um sentinela presta atenção – você.

Se for assim que a tropa se comporta nas suas apresentações – última forma comandante! – está na hora de fazer uma revolução.
O público hoje deseja ouvir um bom conteúdo, mas quase nunca o suporta em vôo solo, exige, para se animar, que seja acompanhado de artilharia pesada.

Exagero? Então dê uma olhada nos palestrantes de agenda lotada. Cada um, a seu modo,sabe como se preparar para o desfile da grande parada. Fazem a platéia chorar, rir, se emocionar, tudo, menos ficar apática e dispersa.
Essa estratégia de guerra não é nova, já faz parte do arsenal dos camelôs há décadas. Com eles não tem bala de festim: ou faturam, ou não comem – é pura questão de sobrevivência.

Você já parou para pensar como é que esses guerrilheiros das ruas, muitos deles analfabetos, ou de poucas letras, conseguem reunir dezenas de pessoas, mantê-las atentas por tempo prolongado e no final, como tiro de misericórdia, vender uma aguinha colorida, que provavelmente não terá nenhuma utilidade?

A água vendida normalmente tem a cor da moda, agora é viágua, azul piscina para facilitar a identificação.
São geniais. Vale a pena conhecer suas táticas de batalha – provocariam inveja até em Napoleão.

Quando participei de uma das matérias do programa Vitrine da TV Cultura, que analisava a comunicação dos camelôs, fui até o centro velho de São Paulo atuando como repórter para entrevista-los.
Fiquei impressionado. Sabiam tudo de comunicação!

Um deles me revelou que para chamar a atenção das pessoas, que passavam apressadas, costumava disparar frases – verdadeiro tiro para o ar – para provocar impacto. Curiosas, diminuíam a marcha e se obrigavam a parar para ouvi-lo.

Outro comentou que enquanto falava ficava atento à movimentação do público. Se os ouvintes começassem a olhar para os lados, para o chão, ou movimentar muito a cabeça, era porque estavam ficando impacientes e prontos para desertar. A tática nessa situação era mudar de assunto, contar uma história leve, curiosa, apresentar alguma novidade para que o interesse fosse reconquistado. Se nada desse resultado punha a Catarina na roda.
Catarina era uma cobra gigantesca que tinha aprendido a fumar. Era infalível, ninguém arredava pé antes das primeiras tragadas.

Um terceiro me disse que, depois de contar muitas histórias engraçadas e fazer o povo rir até sair lágrimas, infiltrava no território “inimigo” os serviços do “agá”. “Agá” é o cúmplice do camelô, que espera o momento apropriado para tomar a iniciativa e ostensivamente comprar o produto, como se tivesse se rendido aos argumentos irresistíveis do vendedor. Não vamos nos esquecer, explicou com jeito matreiro, que o ambiente é de praça de guerra e um “agazinho” bem plantado não prejudica, só serve de isca camuflada.

Catarinas e “agás” à parte, em todos esses casos tivemos exemplos mais do que especiais, que não se aprendem nem no mais avançado curso de pós-graduação. Vá você também conhecer esse campo de batalha. Tire uma tarde de folga, deixe a carteira e o relógio em casa, para evitar prejuízos, e procure aprender um pouco mais sobre comunicação.

O programa é convidativo:

Investimento = zero

Local = centro da cidade

Horário = aberto

Prazo de inscrição = livre

Palestrante = José Severino da Silva

Formação = universidade da vida

Pegue o certificado de conclusão, produza o seu show, abra as cortinas e comece o espetáculo.

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