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04 mar 2018

Ih! deu branco

Reinaldo Polito

Ter um branco no momento de falar em público é uma saia justa que ninguém gostaria de enfrentar. Reflita comigo no constrangimento desta circunstância: ao fazer uma apresentação diante da platéia, num determinado momento, sem mais nem menos, dá um branco, as idéias desaparecem e você fica sem saber qual rumo tomar.

A situação começa a ficar desesperadora depois que você descobre não se tratar apenas do desaparecimento de uma ou outra palavra que deveria corporificar de maneira adequada o pensamento. Você percebe que a falha é muito mais grave, pois o que sumiu na verdade foi toda a seqüência do raciocínio.

Entre o momento do branco e a descoberta de que você ficou sem saber por onde seguir na apresentação transcorrem apenas alguns poucos segundos, mas na sua cabeça a impressão é de que foram longos e intermináveis minutos.

Esse é um cenário muito apropriado para o aparecimento do medo. Afinal, todas as condições indicam que, se a situação persistir, a sua imagem como orador poderá ser prejudicada. Por isso é natural que ocorra uma descarga de adrenalina no organismo e que a partir daí o descontrole se generalize.

Um dos erros mais graves que se pode cometer para tentar afastar o branco é o de insistir sem nenhum critério para reencontrar a linha de pensamento. A experiência mostra que, quanto mais se insiste, mais o pensamento tenderá a escapar.

Ah, se fosse possível fugir e não ter de passar por esse sofrimento. Como seria bom se aparecesse um buraco no chão e pudesse desaparecer da frente dos ouvintes. Melhor ainda seria acordar e se dar conta de que tudo não passou de um pesadelo.

Se você já teve um branco ao falar em público, sabe exatamente o que eu estou dizendo. Se você nunca foi apanhado por ele, tem consciência de que precisa se cuidar, pois todos nós estamos sujeitos a passar por essa situação diante da platéia.

Essa é uma preocupação não só de quem se inicia na arte de falar em público, mas também daqueles já experimentados em freqüentar tribunas. Quase todas as semanas alguém me diz: “Polito, tenho medo de que me dê um branco”.

Se você seguir as sugestões que vou passar a partir deste momento, terá à disposição um conjunto de recursos para se proteger do branco.

Esteja muito bem preparado
Embora o preparo nem sempre seja suficiente para impedir o aparecimento do branco, as chances de que ele ocorra se ampliam ainda mais se você não se preparar de maneira conveniente. Por isso não se arrisque.

Não se limite a uma preparação apenas superficial. Saiba que passar os olhos duas ou três vezes no texto que irá expor, provavelmente, não será suficiente para que se sinta seguro e em condições de falar.

Não seja negligente. Cuide da sua preparação o máximo que puder. Use todo o tempo que tiver à disposição. Se puder contar com uma semana para se preparar, prepare-se durante toda a semana. Se tiver um mês, prepare-se durante todo o mês. Enfim, quanto mais preparado estiver, maior será o seu domínio sobre o tema, mais organizada será a seqüência do raciocínio e, conseqüentemente, menores serão as chances de que ocorra o branco.

Uma boa estratégia de preparação é a de ensaiar o discurso de maneiras diferentes, alterando as palavras, modificando a ordem das etapas e dos tópicos. Procure alternar o treinamento com e sem o apoio de recursos visuais. Esse procedimento permitirá que promova as adaptações que julgar convenientes diante dos ouvintes, no momento da apresentação.

Estou fazendo essa sugestão porque se você se submeter a uma única forma de treinamento e durante a apresentação não se lembrar de uma ou outra informação importante, ficará limitado para encontrar alternativas que o ajudem a superar o problema.

São inúmeros os exemplos de pessoas das mais diferentes formações dizendo-se abaladas por causa da desagradável experiência de terem enfrentado um branco quando era importante que se saíssem bem na apresentação.

O problema de algumas delas foi tão grave que chegou a prejudicar sua imagem profissional.

Não permita que o mesmo ocorra com você. Prepare-se bastante. E, quando achar que já está pronto, volte a se preparar ainda mais.

Leve um roteiro como apoio
Não haverá nenhum mal se você resolver levar um roteiro escrito como apoio para ter mais segurança na apresentação. Você poderá contar com o auxílio do roteiro sempre que desejar, mas recorra a esse apoio especialmente quando se sentir desconfortável, imaginando que pelo nervosismo poderá ter um branco.

Prepare o roteiro de tal forma que possa se sentir à vontade para manuseá-lo diante do público. Uma recomendação que dá bons resultados é escrever frases que possam ajudá-lo a seguir a seqüência da exposição. Inclua também no roteiro os números, as datas e as cifras que precisam ser mencionados.

Você se sentirá mais amparado com o uso de um roteiro. Provavelmente o fato de saber que, se não se lembrar de alguma informação poderá recorrer ao recurso de apoio, vai deixá-lo mais seguro. E é quase certo que nunca precise recorrer a ele, pois essa confiança permitirá que se lembre de todos os dados de que precisar.

Como agir na hora do branco
Até aqui eu me preocupei em orientá-lo como agir para evitar o branco. Agora vou dar algumas dicas de como proceder se for surpreendido por ele.

O maior e mais importante de todos os conselhos que eu poderia dar é que procure não perder a calma e muito menos se desesperar se der o branco -por maior que seja a dificuldade para agir assim.

Tenha em mente que, se ficar desesperado, perderá o controle da situação e agravará ainda mais o problema. Se você for dominado pelo desespero, mais irá se pressionar e menores serão as chances de se safar dessa verdadeira armadilha que armará para você mesmo. Por isso, quanto mais puder manter a calma, maiores serão as possibilidades de sucesso.

Há pouco, eu disse que um dos erros mais graves para quem é apanhado pelo branco é o de ficar insistindo para encontrar a informação que perdeu. Por isso, não insista. Se tiver um branco insista apenas uma vez para tentar se lembrar da informação.

Se não for possível recuperá-la na primeira tentativa, veja se consegue repetir a última frase que pronunciou, como se estivesse querendo dar ênfase àquela parte da mensagem -às vezes dá certo e ao chegar ao ponto em que deu branco a informação poderá surgir naturalmente.

Bem, se esse recurso não der certo, recorra à expressão que dá excelentes resultados, o melhor remédio contra o branco. Diga: “na verdade, o que eu quero dizer é…” Essa expressão o obrigará a recontar a informação por um novo ângulo, e o pensamento se ajustará para continuar com a seqüência planejada. Funciona mesmo, pode usar que dá resultado.

Se mesmo assim esse remédio que estou dizendo que é infalível fracassar, comente com os ouvintes que mais à frente voltará a abordar esse ponto da apresentação e passe imediatamente para o tópico seguinte. Dessa forma, tendo saído da pressão do momento e com mais tranqüilidade, ao longo da apresentação você terá melhores condições de se lembrar do que havia esquecido. Ainda que não consiga se lembrar da informação, é pouco provável que alguém se manifeste pedindo que volte a falar daquele tópico.

Você também poderá contar com o auxílio de um ponto eletrônico. Com esse aparelho imperceptível no ouvido e com a ajuda de uma pessoa bem treinada para passar informações, você estará ainda mais protegido contra o branco.

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