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01 maio 2024

Superdicas para falar bem

A Editora Saraiva acaba de lançar meu livro – Superdicas para falar bem – em conversas e apresentações. É uma obra em formato menor, com 136 páginas, em duas cores, totalmente ilustrada e por um precinho muito especial, R$ 9,90. Este livro nasceu das orientações que tenho dado aos leitores em jornais, sites, entrevistas e, principalmente, nas páginas da VENCER!”. São 60 dicas rápidas cobrindo os mais variados aspectos da comunicação, desde o comportamento que se deve ter em conversas sociais, palestras, reuniões, até o uso correto dos recursos audiovisuais.
Neste texto resolvi antecipar algumas delas, pinçadas em assuntos diversos para que você possa usar imediatamente, nas próximas conversas ou apresentações que precise fazer. Além das dicas que você irá encontrar no livro, acrescentei informações que fazem parte do mesmo tema para que o assunto seja ainda mais abrangente.

1. Seja bem-humorado
Ser bem-humorado não significa bancar o palhaço e virar o bobo da corte. Também não é sinônimo de vulgaridade. Se você evitar os trocadilhos grosseiros e aprender a aproveitar bem as informações da própria circunstância para torná-las engraçadas, sempre terá alguém querendo ficar a seu lado para conversar. A ironia fina, com informações subentendidas, além de demonstrar sua inteligência, brilho e preparo intelectual, será também uma homenagem à sensibilidade e à percepção de quem conversa com você. Na verdade, a sutileza da tirada espirituosa deverá ser utilizada de acordo com a formação e o nível intelectual da pessoa com quem esteja conversando. Atenção: mesmo que a circunstância propicie o uso da baixaria, não caia nessa – pode apostar que você não vai lucrar nada com a atitude vulgar. Existe uma linha tênue, imperceptível, que separa o humor da vulgaridade e que se aproxima ou se distancia de um ou de outro, de acordo com as características dos ouvintes e do contexto em que se encontram.
Quanto mais você se aproximar desta linha, mais bem-humorado se tornará, mas maior passa a ser o risco de cair na vulgaridade. Assim, como nunca terá certeza de onde está esta linha, é conveniente que mantenha uma distância de segurança e evite ultrapassá-la. É muito melhor que seja menos engraçado do que poderia – tendo a certeza de que sua imagem será preservada e de que continuará a merecer o respeito das pessoas – do que chegar ao limite que talvez lhe proporcione maior sucesso, mas que também pode, por um erro de cálculo, torná-lo vulgar.
Bom humor também exige treinamento e muita observação. Procure testar algumas brincadeiras nos ambientes mais íntimos e observe bem a reação das pessoas – se elas, que são próximas, não rirem ou tiverem qualquer tipo de manifestação forçada, apenas para que você não fique chateado, risque o item do seu caderninho de gracejos e procure formas mais interessantes de fazer humor, pois se não deu certo em casa, lá fora é que não vai funcionar mesmo.

2. Aprenda a conversar
A habilidade de conversar será útil a você em qualquer circunstância: no contato com uma ou duas pessoas, numa reunião profissional, proferindo palestras, ministrando aulas, participando de convenções. Enfim, é uma qualidade que o ajudará sempre a abrir as portas para o sucesso.
Saber conversar é ter habilidade para contar histórias interessantes, usar a presença de espírito de maneira apropriada e na medida certa, ouvir atentamente e, principalmente, a arte de saber fazer perguntas apropriadas para o momento.
Por isso, aprenda a fazer as perguntas certas para o objetivo que deseja atingir. Se sua intenção for iniciar uma conversa ou criar um ambiente favorável para obter informações em pouco tempo, lance mão de perguntas fechadas, que produzam respostas rápidas e curtas. Por exemplo: Quem? Há quanto tempo? Onde? Quando?
Observe que, ao fazer estas perguntas, você obtém respostas objetivas, que possibilitam receber rapidamente informações importantes, sem truncar o desenvolvimento do raciocínio ou dispersar a concentração.
Se, entretanto, seu objetivo for motivar as pessoas a participar mais ativamente da conversa, ou descobrir suas intenções, desejos ou necessidades, faça uso de perguntas abertas, que provocam respostas mais longas, que exigem maior elaboração do raciocínio. Por exemplo: O quê? Por quê? Como? De que maneira?
Você percebeu que, ao contrário do que ocorre com as perguntas fechadas, este tipo de questionamento exige respostas com maior participação das pessoas, que se obrigam a elaborar o raciocínio e fornecer informações que quase sempre mostram um pouco da sua personalidade e da sua maneira de pensar.
Se você souber fazer as perguntas apropriadas, poderá sempre ter o controle da conversa, mesmo que o seu papel seja apenas o de um bom ouvinte.
Além de se aprimorar na arte de fazer perguntas, aprenda a contar algumas histórias interessantes e bem curtinhas. Essa conjugação de habilidades, saber fazer perguntas e contar histórias, é perfeita para quem deseja ter uma conversa agradável.

3. Deu branco
Se você estiver falando diante de um grupo de pessoas e de repente der branco e se esquecer completamente da informação que pretendia transmitir, não fique desesperado. O desespero é um veneno para a apresentação, pois, se você for dominado por ele, mais irá se pressionar e maior será a dificuldade para encontrar uma saída. Eu sei que não é tão simples assim, pois quando as informações desaparecem da cabeça a vontade é a de abrir um buraco no chão e sumir da frente dos ouvintes, mas o caminho é esse mesmo. Empenhe-se nessa direção e tente manter a calma.
Não insista. Ao perceber que deu branco, tente apenas uma vez se lembrar da informação. Se não conseguir resgatá-la na primeira tentativa, repita a última frase que pronunciou, como se estivesse querendo dar ênfase àquela parte da mensagem – é provável que, ao chegar ao ponto em que deu branco, a informação surja naturalmente.
Se essa tática não funcionar, use a expressão mágica, que se constitui no melhor remédio contra o branco. É tiro e queda. Diga: na verdade o que eu quero dizer é… Com essa expressão você se obrigará a explicar a informação por um outro ângulo e o pensamento se reorganizará para seguir a seqüência planejada. Não falha. Use que dá certo.
E, se por uma desgraça da circunstância não funcionar, diga aos ouvintes que mais à frente voltará a tratar daquele aspecto da mensagem e passe imediatamente para outro tópico. Provavelmente, mais tranqüilo e sem a pressão de ter que encontrar a informação, no transcorrer da exposição você se lembrará com mais facilidade. Mesmo que não consiga se lembrar da informação, dificilmente um ouvinte irá cobrá-lo por isso.
Se você ficar muito preocupado com a possibilidade de ocorrer branco, leve um roteiro escrito com a seqüência das frases que pretende utilizar durante a apresentação. Sabendo que se a informação fugir poderá recorrer ao recurso de apoio, irá se sentir mais tranqüilo, confiante e, provavelmente, não terá branco.

4. Acabe com o “né?”
Um “né?” tudo bem. Dois, vá lá. Três ou quatro ainda podem ser suportáveis. Mas, usar o “né” com freqüência, em quase todo final de frase, pode fazer com que as pessoas se irritem e se sintam desestimuladas a prestar atenção em suas palavras, seja numa reunião da empresa, nas negociações, seja nas entrevistas.
Estou falando do “né?” porque ele é o grande chefe de uma imensa família que inclui parentes como “tá?”, “ok?”, “entende?”, “percebe?”, “tá entendendo?” e outros agregados não menos votados, tais como “não é verdade?”, “fui claro?”
Ter consciência é o primeiro passo. Para eliminar os desagradáveis “nés?” da sua comunicação o primeiro passo é tomar consciência da existência deles. Embora não seja muito simples descobrir sozinho se o “né?” está entrando e interferindo na sua fala, com um pouco de atenção e boa vontade talvez você consiga perceber se já foi picado por esse bichinho inconveniente. Uma pessoa amiga, ou próxima poderá ser muito útil para ajudá-lo nessa avaliação, dizendo se você tem o hábito de dizer o “né?” Entretanto, a melhor maneira de saber se usa ou não o né? constantemente é gravar por um tempo suas conversas nas reuniões, nas situações mais íntimas e nos contatos pelo telefone.
Assim, ao tomar consciência de que usa muito o “né?”, sempre que perceber a presença desse intruso na sua fala irá se sentir tão desconfortável que naturalmente passará a eliminá-lo.
A insegurança é um dos principais motivos. Se você estiver inseguro, a tendência é falar como se estivesse perguntando, mesmo nos momentos em que deveria fazer afirmações. A falta de segurança fará com que esteja quase sempre pedindo algum tipo de retorno ou de aprovação dos ouvintes. É como se você dissesse no final das frases: Estou me comunicando bem, né? Estou transmitindo a informação de maneira correta, né? Por isso, ao falar usando a entonação de quem está fazendo perguntas irá se valer do “né?” para encerrar as frases. Essa atitude desconfortável, enfraquecida, talvez, não combine com sua posição e não corresponda à expectativa que seus colegas e o mercado onde esteja atuando têm da sua postura como comunicador. Assim, sempre que perceber a entonação característica de pergunta na sua comunicação, quando deveria estar afirmando, procure mudar a maneira de falar e se expresse com afirmações.
É impressionante como essa atitude pode ser eficiente na eliminação do “né?” Tive alunos que não conseguiam pronunciar duas frases sem usar o “né?” porque se expressavam com a entonação de quem perguntava. Com alguns exercícios simples de correção para alterarem a entonação e deixarem de falar como se estivessem perguntando, em pouco tempo já tinham eliminado totalmente o vício.

5. Faça do “nós” uma expressão mágica
Pessoalmente não gosto muito do nós quando utilizado como plural de modéstia (também conhecido como majestático). Soa falso e parece artificial. Não vejo muito sentido em dizer: fizemos um grande esforço para estar aqui. Seria mais natural e, provavelmente, pareceria mais verdadeiro se fosse dito: fiz um grande esforço para estar aqui – desde que, evidentemente, a pessoa não tivesse ido mesmo acompanhada, ou não estivesse falando em nome de um grupo.
Embora essa tenha sido uma prática comum no passado, hoje ainda há remanescentes de cabelos grisalhos que preservam a tradição e até alguns jovens que foram contaminados pelo uso do nós com intenção de demonstrar modéstia. É questão de estilo e preferência – caberá a você decidir como se sentirá melhor.
Entretanto, há situações em que o nós aparece como uma palavrinha mágica na comunicação, e pode ser o detalhe que fará a diferença para que os ouvintes sejam conquistados. Quando ensinamos, aconselhamos ou fazemos sugestões aos ouvintes, o nós tem o poder de afastar resistências desnecessárias. É como se o orador estivesse se incluindo no grupo para receber a mensagem, isto é, ele aconselha, mas ao mesmo tempo é aconselhado; ensina, mas, ao mesmo tempo, recebe os ensinamentos.
Seria diferente se ele usasse o vocês no lugar do nós, pois, se assim o fizesse, passaria a impressão de que era o único a saber como agir e que os outros, aqueles que recebem suas informações, são despreparados ou desinformados. Ergueria, dessa forma, uma barreira diante dos ouvintes, dificultando a tarefa para conquistá-los. Observe que, ao orientar sobre os benefícios da palavra nós, tive o cuidado de usar o pronome no plural, pois estava aconselhando e, portanto, conforme sugestão da regra, deveria me incluir no aprendizado, mesmo escrevendo, situação em que o “eu” talvez não produza as mesmas barreiras que são levantadas quando a comunicação é oral. Todavia, agora, no momento de dar essa explicação, usei o eu, coerente com a crítica inicial sobre o plural de modéstia.
Se, apesar dessas reflexões, você concluir que deverá continuar usando o nós como plural de modéstia, vá em frente, e saiba que estará acompanhado de muitos autores. Mas, de vez em quando, volte a pensar sobre o assunto e quem sabe uma hora passe a concordar comigo e mude a maneira de se expressar: “nós nos sentiremos muito honrado”.
Não estranhe. Não se trata de erro de concordância. Neste tipo de construção, o pronome é empregado no plural (nós), mesmo se tratando de uma só pessoa. O verbo acompanha, faz a concordância com o sujeito e é flexionado (sentiremos). Entretanto, como se trata de uma só pessoa, o predicativo, neste caso o adjetivo, continua no singular (honrado). Você agüenta essa conversa em pleno século 21? Nós não…Ops!

6. Ande sempre na linha
Quando falamos em andar na linha, geralmente, o primeiro pensamento que nos ocorre está relacionado ao oposto desta conduta, isto é, às falcatruas, aos desvios de conduta, próprios de pessoas desonestas. Mas, esse conceito, tão importante para que possamos conquistar credibilidade na comunicação, está especialmente associado ao nosso comportamento do dia-a-dia. Permita que eu me inclua nessa roda – nós somos pessoas inteligentes e, por isso, sabemos que algumas qualidades são importantes para a projeção da nossa imagem. Entre elas podemos destacar, por exemplo, pontualidade, organização, tolerância com os mais humildes, generosidade, espírito de participação em equipe. E por termos consciência de que essas qualidades são importantes para a projeção da nossa imagem, nós almejamos tanto possuí-las que chegamos a ficar convencidos de que elas já estão integradas à nossa conduta. E falamos com a certeza de que as possuímos. Entretanto, nem sempre esse fato corresponde à verdade. E as pessoas que nos cercam, parentes, subordinados, colegas de trabalho, amigos, enfim, aqueles que nos conhecem bem, constatam que, na verdade, falamos de uma maneira, mas agimos de outra forma totalmente distinta. Falamos com convicção que ser pontual é importante, mas, com freqüência, nos mostramos impontuais; declara-mos reiteradamente que é importante trabalhar em equipe, mas nos isolamos em atividades solitárias. Por esse motivo, fica evidenciado um distanciamento, um descompasso entre a mensagem e o comportamento e, como conseqüência, podemos comprometer a credibilidade da nossa comunicação.
O conceito de conduta exemplar está fundamentado na consistência e na coerência do comportamento, ou seja, no falar e no agir de acordo com a pregação que fazemos. As palavras não podem ser proferidas de maneira vazia e irresponsável como se não tivessem significado e encerrassem em si mesmas o compromisso entre o que dizemos e a forma como agimos.
Em uma das páginas mais significativas da oratória sacra, o Sermão da Sexagésima, o padre Vieira critica de maneira veemente os padres que não se comportavam de acordo com as pregações que faziam: “Sabem, padres pregadores, por que fazem pouco abalo os nossos sermões? Porque não pregamos aos olhos, pregamos só aos ouvidos. Por que convertia o Batista tantos pecadores? Porque assim como as suas palavras pregavam aos ouvidos, o seu exemplo pregava aos olhos.”
Essa é uma tarefa de todos os dias, observar se não estamos apenas falando por falar, fazendo uso de palavras ocas, que não identificam exatamente o que pensamos, acreditamos, sentimos ou fazemos.
Não negligenciemos com a coerência de nossa conduta. Em determinadas circunstâncias, é preferível até assumir prejuízos financeiros ou ter de fazer sacrifícios que não trarão vantagens materiais, mas jamais deixarmos de cumprir a palavra ou agir de acordo com a mensagem que transmitimos. Nossa reputação é construída por pequenos detalhes, que ao longo do tempo identificarão nosso caráter e a retidão de nossa conduta. Esse é o melhor de todos os patrimônios que poderíamos aspirar.

7. Com a caneta na mão
Parece besteira, coisa sem importância, mas não passa uma semana sequer sem que um aluno me pergunte se há problema em falar com uma caneta na mão. A maioria afirma que, segurando uma caneta, se sente mais à vontade e com menos nervosismo. Bem, quem sou eu para condenar um recurso que dá segurança e tranqüilidade ao palestrante?! Lógico que se você puder falar com as mãos livres, sem segurar nenhum objeto, sua apresentação provavelmente será muito mais eficiente.
Para você saber se será conveniente ou não segurar uma caneta, ou qualquer outro objeto, enquanto estiver falando, analise o contexto da apresentação. Por exemplo, se você falar usando um quadro branco como recurso visual e segurar o pincel de tinta enquanto dá as explicações para os ouvintes, não haverá nenhum problema, pois ele naturalmente estará fazendo parte do contexto da apresentação. Se, entretanto, nessa mesma circunstância, você segurar uma caneta esferográfica, por ela não ter utilidade prática naquele momento, já que não poderá utilizá-la para escrever no quadro, estará fora do contexto da apresentação e poderá desviar a atenção dos ouvintes. Porém, você poderia segurar essa caneta esferográfica se estivesse falando sentado à mesa, pois, nesse caso, pelo fato de ela ser útil para possíveis anotações, participaria naturalmente do contexto da exposição. Às vezes somos obrigados a falar segurando vários objetos, como laser pointer, microfone, pastas, bloco de anotações. Mesmo com as duas mãos ocupadas, será possível fazer a exposição sem desviar a atenção da platéia, pois esses objetos estão inseridos no contexto da apresentação.

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